Sistema FAEP/SENAR-PR
Alunos de colégio agrícola pilotando drone durante formação no Paraná

SENAR-PR coloca colégios agrícolas na era digital

Programa Agropecuária 2030 leva módulos como Agricultura de Precisão e Drones a 1,5 mil estudantes dos 23 colégios técnicos do Paraná

Aluno do Colégio Agrícola Estadual de Toledo, na região Oeste do Paraná, o jovem Eduardo Antônio Marochio Lourini sempre soube da importância das novas tecnologias para o setor agropecuário. Mas ainda não tinha tido a oportunidade de entrar em contato direto com as novidades da era digital, que não eram contempladas na grade tradicional do curso. Isso começou a mudar no início do segundo semestre de 2023, quando o SENAR-PR deu início ao Agropecuária 2030, programa de formação profissional voltado aos 23 colégios agrícolas do Paraná. Em um dos módulos – o de Agricultura de Precisão (AP) – o estudante de 16 anos se maravilhou com a revolução que softwares e imagens de satélite podem propiciar ao campo.

Eu sabia que essas tecnologias já vinham sendo usadas no meio rural, mas nunca tinha tido a experiência. O curso trouxe isso e é impressionante. O mapeamento digital permite inúmeras informações detalhadas da área e, a partir disso, uma produção mais eficiente. Com certeza, isso é o futuro.

Antônio Marochio Lourini, aluno do Colégio Agrícola Estadual de Toledo

A partir de um convênio com o governo estadual firmado em 30 de agosto, o SENAR-PR passou a levar o programa Agropecuária 2030 aos mais de 1,5 mil alunos dos 23 colégios agrícolas, colocando-os em contato com conceitos e disciplinas que não estão na grade curricular. A parceria se estenderá por 60 meses – cinco anos –, que podem ser prorrogados. Os estudantes serão preparados para dominar conceitos e tecnologias que puxarão o desenvolvimento do setor agropecuário paranaense ao longo da próxima década. E mais: o Sistema FAEP/SENAR-PR vai investir R$ 2 milhões em equipamentos, como drones, aparelhos de GPS e amostradores de solo, que serão usados nas aulas.

Alunos de colégios agrícolas do Paraná durante aula prática com instrutor do SENAR-PR em trator

O programa conta com quatro módulos. Três deles já estão em aplicação: o de Mecanização Agrícola e o de AP (com duração de 40 horas cada um), e o de Drones Agrícolas (com 20 horas). O SENAR-PR também está concluindo a elaboração de um módulo de Pecuária (que terá 20 horas), a ser levado às salas de aula nos próximos meses. A parceria revela a importância que os colégios técnicos agrícolas têm para o Sistema FAEP/SENAR-PR.

Esses jovens são os agricultores e pecuaristas do futuro ou mesmo os profissionais que vão dar assistência. Com esse programa, nós colocamos os alunos em contato com o que há de mais moderno em tecnologias e em conceitos aplicados ao setor agropecuário. Queremos que esse programa seja a porta de entrada desses meninos e meninas para a era digital e para o sistema de representatividade.

Ágide Meneguette, presidente do Sistema FAEP/SENAR-PR

Confira os detalhes dos quatro módulos do programa Agropecuária 2030:

  • Agricultura de Precisão (AP): aborda tecnologias de softwares e hardwares aplicadas à gestão de operações agrícolas mecanizadas. O treinamento engloba tecnologias digitais para uso de imagens de satélite e tecnologias embarcadas em máquinas agrícolas, como automação, piloto-automático e mapas de aplicações em taxa variada.
  • Mecanização Agrícola: voltado ao planejamento e gestão de frotas de máquinas agrícolas, assim como a preparação dessas máquinas para as operações de plantio, manejo e colheita. O curso contempla fatores de desempenho em operações agrícolas mecanizadas, dimensionamento e regulagens de equipamentos agrícolas, além de práticas ambientalmente sustentáveis, segurança no trabalho e legislação, entre outros temas.
  • Drones Agrícolas: contempla todas as potenciais utilizações de drones no setor agropecuário. O curso aborda conceitos básicos da tecnologia e das exigências legais da operação, além de demonstrar as inúmeras aplicações dessas tecnologias no meio rural.
  • Pecuária: Ainda em processo de elaboração de acordo com as demandas do setor, o módulo terá como foco a capacitação dos alunos nas principais práticas de manejo pecuário, alinhadas ao conceito de boas práticas.
Estudantes em campo aberto com pastagem e floresta operando drones graças a projeto em parceria com o SENAR-PR

O programa

A formatação do programa começou em dezembro de 2022, com o desenvolvimento dos módulos. O plano de aulas foi construído coletivamente por técnicos e instrutores do Sistema FAEP/SENAR-PR no Centro de Treinamento Agropecuária (CTA) da entidade em Ibiporã. No caso da formação em AP, os profissionais passaram por uma atualização na Escola Superior de Agricultura, da Universidade de São Paulo Luiz de Queiróz (Esalq/USP), em Piracicaba, no interior paulista. O programa também conta com material didático exclusivo, em consonância com as demandas dos estudantes.

“Todos os módulos foram construídos especificamente para os alunos dos colégios técnicos agrícolas. Foram dois meses desenhando os treinamentos e fazendo as adaptações educacionais. Por serem menores de idade, os alunos não podem, por exemplo, pilotar máquinas agrícolas. Então, desenvolvemos estratégias didáticas para apresentar o conteúdo a partir de outras práticas”, explica o técnico Heli Heros Assunção, do Departamento Técnico (Detec) do Sistema FAEP/SENAR-PR, que integra a equipe técnica do Agropecuária 2030.

O programa é levado às escolas por 24 instrutores. Para garantir a efetividade das aulas, os módulos contarão com avaliações em 360º – ou seja, em que todos os atores se avaliam: instrutores, alunos e colégios. Os dados serão compilados pelo Detec do Sistema FAEP/SENAR-PR, que entregará um relatório detalhado periodicamente a cada unidade escolar. O Agropecuária 2030 também tem envolvido professores dos colégios.

“Muitos docentes têm assistido às aulas, como uma atualização. São conteúdos que muitos deles ainda não estão familiarizados. É um programa que tem um caráter muito forte de modernização”, aponta Assunção. Para o responsável pela coordenação técnica dos colégios agrícolas, Renato Gondin, da Secretaria de Estado da Educação do Paraná (Seed), a parceria com o SENAR-PR tem sido bem recebida e avaliada por alunos, professores e diretores dos colégios agrícolas. Gondin aponta que o Agropecuária 2030 trouxe o olhar de modernização que faltava, “colocando os colégios agrícolas, definitivamente, no século XXI”. Em razão disso, o dirigente acredita que os estudantes sairão dos cursos mais preparados para suprir a demanda qualificada do mercado de trabalho.

Drones, Agricultura de Precisão, georreferenciamento, tecnologias de ponta… era utópico para os colégios agrícolas. Por meio dessa parceria com o SENAR-PR, tudo isso se tornou realidade. Estamos tendo acesso a tecnologias que não conhecíamos e que estão sendo bem recebidas pelos alunos.

Renato Gondin, coordenador técnico dos colégios agrícolas na Seed-PR

“Há uma demanda grande por operadores de drones de pulverização e por trabalhadores para atuar no pós-venda desses equipamentos. Também há um gargalo em
georreferenciamento, principalmente agora, a partir do CAR [Cadastro Ambiental Rural]. Tudo isso cria oportunidades para os nossos alunos”, observa.

Conhecimento na prática

O perfil dos alunos dos colégios agrícolas, segundo os diretores, é diversificado. Há desde filhos de produtores rurais a jovens que veem no setor agropecuário uma alternativa profissional ou um espaço para empreender. Filho de professores, Eduardo Lourini cresceu na cidade, mas, influenciado por colegas, viu o campo como um bom rumo. O programa Agropecuária 2030 trouxe novos horizontes. “Deu para gente ter uma boa ideia das possibilidades. Eu ainda estou indeciso, mas vejo as novas tecnologias da agricultura como um caminho”, diz o estudante.

Um dos instrutores do módulo Agricultura de Precisão (AP), Gustavo Ponce Martins avalia que as aulas têm tirado os estudantes da “zona de conforto” ao apresentar uma variedade de possibilidades com as quais sequer sonhavam. No caso da AP, os estudantes são apresentados a ferramentas que possibilitam, por exemplo, fazer mapeamento do solo, captar imagens de satélite, detectar falhas na lavoura e otimizar a gestão da propriedade.

Eles ficam maravilhados. Além de o conteúdo ser interessante, a metodologia também tem chamado a atenção. Nós colocamos um temperinho a mais, trabalhamos muito com demonstrações práticas. Com isso, temos conseguido despertar a curiosidade deles para essas novas ferramentas e esses novos conhecimentos. Isso expande a visão profissional que eles têm da área.

Gustavo Ponce Martins, instrutor do módulo Agricultura de Precisão (AP)

Luiz Augusto Burei, um dos instrutores de Mecanização Agrícola, também inovou ao levar um simulador, com óculos de realidades virtual e ampliada, à sala de aula. Com isso, os alunos – que em razão de serem menores de idade não podem operar máquinas agrícolas – têm a possiblidade de pilotar virtualmente plantadeiras, colheitadeiras e similares.

“A receptividade tem sido ótima. O envolvimento dos alunos nas aulas e os feedbacks recebidos mostram que os conteúdos e a metodologia das aulas têm sido diferenciais”, aponta Burei. “Os conteúdos selecionados atendem aos principais desafios que os produtores encontram no dia a dia. É um grande diferencial para os futuros técnicos agrícolas frente ao mercado de trabalho”, avalia.

No Centro Estadual de Educação Profissional Arlindo Ribeiro, em Guarapuava, na região Centro-Sul do Paraná, os alunos já concluíram os três primeiros módulos do programa. Para o diretor do colégio, Piero de Sousa Pinto, os conteúdos permitem que os alunos já saiam do ensino técnico com uma visão abrangente, aumentando a possibilidade de serem absorvidos pelo mercado de trabalho ou de revelar áreas que os estudantes queiram se aprofundar.

Alunos de colégio agrícola fazem atividade em computador, usando bonés do Sistema FAEP/SENAR-PR, parceiro para levar inovações tecnológicas para dentro dos centros de formação de técnicos agrícolas

“A contribuição é excelente. Além de os alunos saírem com o currículo mais recheado, essas disciplinas ampliam as possibilidades de mercado de trabalho ou de empreenderem nessas áreas, em alta no setor agropecuário e dão emprego. Essa é a grande sacada do SENAR-PR”, diz Sousa Pinto. “Nossos professores são engenheiros agrônomos e até têm conhecimento nessas áreas, mas não são especialistas. A ideia é somar esforços dos professores e instrutores para melhorar o aprendizado do aluno”, destaca.

Em outras unidades, as percepções são semelhantes. O Centro Estadual de Educação Profissional Manoel Ribas, em Apucarana, no Norte do Paraná, já costumava levar aos alunos cursos do SENAR-PR, como “Classificação de grãos”, “Casqueamento” e “Manejo de gado de leite”. Na visão do diretor da unidade produtiva do colégio, Júlio César Pedroso, o programa Agropecuária 2030 vai além, colocando os estudantes em contato com novas tecnologias.

Esse contato aprofundado com as ferramentas e aplicações tecnológicas é fundamental. É uma coisa que não conseguíamos oferecer e que, a partir do SENAR-PR, passou a chegar aos nossos alunos. Pelo fato de os módulos terem uma ênfase prática, isso chama muito atenção e desperta o interesse dos estudantes.

Júlio César Pedroso, diretor da unidade produtiva do Centro Estadual de Educação Profissional Manoel Ribas, em Apucarana

Programa atrai jovens para sistema de representatividade

Além do aspecto educacional, o Agropecuária 2030 também coloca os estudantes de colégios agrícolas em contato direto com o sistema sindical rural. Na aula inaugural do programa, representantes do sindicato rural do município em que a escola se encontra
fazem uma apresentação, esmiuçando o funcionamento da rede formada pelos sindicatos rurais (que defende os interesses dos produtores rurais em âmbito municipal), FAEP (que representa a categoria no Estado) e Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA, que exerce a liderança nacionalmente).

Em outra ponta, para muitos estudantes, o programa também representa o primeiro contato com o SENAR-PR. O instrutor Gustavo Ponce Martins conta que vários alunos já se inscreveram, por exemplo, no curso de Excel – software bastante utilizado nas aulas de Agricultura de Precisão. “Certamente muitos desses jovens vão procurar o SENAR-PR ao longo de sua vida profissional, para se atualizar e complementar a formação”, observa o instrutor.

Para o presidente do Sistema FAEP/SENAR-PR, Ágide Meneguette, esse aspecto é importante para a renovação do setor agropecuário não só a partir do aspecto profissional, mas também do ponto de vista da representatividade. “Esses jovens já passam a conhecer, desde cedo, o sistema sindical e a importância da participação. Quem sabe não surgem novas lideranças a partir dessa aproximação? Eles têm que se preparar, porque no futuro vão tocar o setor agropecuário, gerando emprego, renda e riquezas ao Paraná e ao Brasil”, diz o dirigente.

Aluna faz atividades em computador em colégio agrícola, alvo de parceria com o Sistema FAEP/SENAR-PR para inovar o parque tecnológico de instituições públicas de ensino no Estado

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Agrinho tem categoria específica para os colégios agrícolas

A importância dos colégios agrícolas para o Sistema FAEP/SENAR-PR também se reflete em outras iniciativas institucionais. Na edição de 2023, o Agrinho – principal programa de responsabilidade social da entidade – passa a contar com a categoria “Relatório de Pesquisa – Colégio Agrícola”, voltada a estudantes de 1º, 2º e 3º ano do Ensino Médio Profissionalizante Técnico Agrícola/Agropecuário da rede pública do Paraná. No total, 42 projetos passaram para a etapa estadual, dentre 109 projetos inscritos.

Nesta primeira edição, o tema escolhido envolveu as boas práticas agrícolas. Ou seja, para participar, os alunos desenvolveram ações vinculadas a práticas sustentáveis de produção de olerícolas, melhora de parâmetros agronômicos e recomposição e melhoria de solos.

“O Agrinho é um programa que já tem quase três décadas e que coleciona milhares de histórias de transformação de alunos. O programa vem se ampliando ano a ano. E, dentro da importância estratégica que os colégios agrícolas têm para o setor agropecuário, era natural que eles também fossem contemplados”, diz o presidente do Sistema FAEP/SENAR-PR, Ágide Meneguette.

Alunos dos colégios agrícolas participam do Agrohackathon

Os colégios agrícolas também tiveram participação na edição de 2023 do Agrohackathon, maratona tecnológica voltada a soluções para o setor agropecuário. O evento ocorreu, de forma simultânea, em quatro cidades: Curitiba, Pato Branco, Assis Chateaubriand e Ibiporã. No total, 53 alunos de colégios agrícolas estiveram envolvidos no desenvolvimento dos projetos, ao lado de universitários de graduação e de pós-graduação, além de profissionais de mercado.

O Agrohackathon é uma iniciativa do Centro de Economia Aplicada, Cooperação e Inovação (CEA) da Universidade Federal do Paraná (UFPR), realizada em parceria com o Sistema FAEP/SENAR-PR, Agrociência Cooperativa e Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). Prestam apoio ao evento o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), Central Sicredi PR/SP/RJ, seguradora BB Seguros, Banco do Brasil, Box Group Cibersegurança, Softfocus e a Agência de Cooperação Alemã (GIZ), por meio do Programa Euroclima +.

Eduardo Lourini e o instrutor Gustavo Ponce: conhecimento na prática

Matriz curricular alinhada com o mercado de trabalho

O Sistema FAEP/SENAR-PR participou da reformulação da matriz curricular dos 23 colégios agrícolas do Paraná, que começa a partir de 2024. A atualização da grade contempla a realidade tecnológica do mercado de trabalho e está adaptada as novas demandas do setor produtivo, de modo a fortalecer a formação dos alunos. A nova matriz conta com três ementas: Técnico em Agricultura, Técnico em Pecuária e Técnico em Agropecuária.

Os colégios agrícolas terão total autonomia para ofertas os cursos, de acordo com as características e as demandas próprias de cada região. Além de ter contribuído com a reformulação da grade curricular, o Sistema FAEP/SENAR-PR também já atuava dentro dos colégios, por meio de iniciativas de imersão, cursos introdutórios e pelo Programa Jovem Agricultor Aprendiz (JAA).

Felippe Aníbal

Jornalista profissional desde 2005, atuando com maior ênfase em reportagem para as mais diversas mídias. Desde 2018, integra a equipe de comunicação do Sistema FAEP/SENAR-PR, onde contribui com a produção do Boletim Informativo, peças de rádio, vídeo e o produtos para redes sociais, entre outros.

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