Aumento das exportações enxugam reservas de grãos do Brasil. Preços internacionais estimulam produção, mas recomposição de estoques pode levar duas safras. A quebra climática da última safra de verão limitou a oferta de soja do Brasil. Com o aumento do consumo externo, o país não só vendeu a produção do ciclo passado como deve dar fim – via esmagamento industrial ou exportação
– a quase todo o volume remanescente da temporada 2010/11.
A expectativa do mercado é que vão sobrar 500 mil toneladas do produto até o fim deste ano. Historicamente, as reservas nacionais ficam entre 2,5 milhões de toneladas e 3 milhões de toneladas. No campo, não há praticamente mais nada de soja. A maior parte dos silos está vazia nas fazendas. O produto que ainda não foi esmagado já tem senha para embarque nos portos, informa o setor.
Além do Brasil, segundo maior produtor mundial de soja, a Argentina e o Paraguai também foram severamente afetados pela seca na última safra. Juntos, os três países respondem por 40% do abastecimento global de soja e, por causa da quebra, condenaram boa parte dos estoques mundiais.
O aperto no quadro de oferta tende a se agravar com a terceira redução consecutiva na colheita de grãos dos Estados Unidos – maiores produtores e exportadores mundiais e cujas reservas já se encontram em níveis críticos. "A recomposição dos estoques vai depender da América do Sul, ou seja, qualquer problema ruim que acontecer aqui complicará o mercado", alerta Aedson Pereira, analista de mercado da Informa Economics FNP.
"Precisamos de duas safras "cheias" para restabelecer os estoques a patamares confortáveis", emenda Pedro Dejneka, analista que atua em Chicago (Estados Unidos).
A escassez na oferta de soja tem empurrado os preços do produto a patamares superiores aos praticados no mercado internacional. Com esse estímulo, os agricultores sul-americanos não devem pensar duas vezes na hora de definir suas apostas.
O aumento na área destinada à soja e a redução na do milho são dados como certos. As estimativas atuais apontam colheita acima de 82 milhões de toneladas – o recorde das lavouras brasileiras é pouco mais de 75 milhões, alcançados em 2010/11.
Metade da produção esperada está vendida, conforme estimativas dos analistas. Atípico, o ritmo de comercialização atual teve como suporte os recordes registrados pelas cotações da soja na Bolsa de Chicago e também no Brasil.
Diante de uma nova frustração de safra no Hemisfério Norte, as perspectivas continuam positivas. "O problema nos Estados Unidos nos deu de presente mais dois anos de bons preços", avalia Eugênio Stefanello, técnico da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) no Paraná e ex-secretário de Agricultura.
O analista da Informa vê nova possibilidade de altas nas cotações dos grãos. "Os efeitos da seca ainda serão sentidos nas lavouras de soja. Até agora foi o milho", afirma.
Preço estimula venda antecipada e esvazia silos no Paraná
Derek Kubaski, especial para a Gazeta do Povo
"Um ano atípico". Com esta frase, o operador de mercado da cooperativa da Colônia Witmarsum – em Palmeira (Campos Gerais) – Hélcio Lara Zakrzewski, define o ano de 2012. Dos seis silos da cooperativa destinados à armazenagem de soja, apenas um ainda tem o grão guardado. Os outros cinco estão completamente vazios há cerca de trinta dias. A cooperativa, que costuma ter 6 mil toneladas entre julho e agosto, neste ano conta com apenas 600 toneladas e, assim como todo o resto da produção, já estão com destino certo, relata Zakrzewski.
Segundo Zakrzewski, os altos preços da soja – que estão girando em torno de R$80,00 pela saca na região – fizeram os produtores comercializar toda a produção antecipadamente. O volume estocado na cooperativa é suficiente apenas a produção de ração dos associados. "Estamos tendo que comprar o farelo e, como conseqüência, o preço da ração fica um pouco mais caro para os nossos cooperados na avicultura, na suinocultura e na criação de gado leiteiro", afirma.
A situação se repete em todo o Paraná, afirma Eugênio Stefanello, técnico da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) no estado. Ele diz que, por conta da redução da oferta do produto, as indústrias esmagadoras, que normalmente param para fazer a manutenção das máquinas entre dezembro e janeiro, deverão paralisar suas atividades mais cedo.
"Até outubro os estoques do campo e da indústria devem zerar. Inclusive já ouvi conversas de que no Rio Grande do Sul tem empresa importando soja da Argentina", revela Robson Mafioletti, técnico da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar). Fonte: Gazeta do Povo
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