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Falta de bois faz frigoríficos fecharem as portas no Brasil

Segundo a Abrafrigo, pelo menos 26 indústrias frigoríficas fecharam as portas ou deram férias coletivas este ano

O atual descompasso entre a capacidade de processamento e a oferta escassa de bois gordos tem levado frigoríficos em vários estados a encerrar suas atividades, informou o presidente da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), Péricles Salazar. “O plantel bovino diminuiu nos últimos anos, enquanto o número de unidades industriais cresceu”, diz o dirigente. “Em algum momento esse desajuste cobra o seu preço, pois há unidades em regiões nas quais a disponibilidade de bois é menor, e aí elas não aguentam”, acrescentou.

A menor oferta de animais para o abate fez o preço da arroba em São Paulo disparar 25% entre janeiro e dezembro de 2014, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). Como os preços da carne no atacado não subiram em igual proporção, a rentabilidade do negócio encolheu. Assim, as empresas enfrentam dificuldades.

Segundo a Abrafrigo, pelo menos 26 indústrias frigoríficas fecharam as portas ou deram férias coletivas este ano. O número pode ser ainda maior, já que as empresas não repassam dados de suas operações à entidade.

Das unidades afetadas, ao menos 14 estão em Mato Grosso do Sul, que detém o quinto maior rebanho bovino do país, estimado em 20,1 milhões de cabeças pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). A Assocarnes, associação de frigoríficos do estado, diz que só nos últimos três meses três plantas de médio porte, com capacidade para 500 bois por dia, fecharam, com a perda de 1,5 mil empregos diretos. São elas a Fricap, em Naviraí; a Fribrasil Alimentos, em Caarapó, e a Beef Nobre, em Campo Grande.

“Os proprietários alegam que faltam animais para manter escalas e que não há condições de competir com os grandes grupos do setor”, relata o presidente da Assocarnes, João Alberto Dias. Ele alertou, ainda, que há outras empresas em dificuldades, sem citá-las. “Calculamos pelo nível de suas escalas. Se antes costumavam abater diariamente 500 bois, hoje esse número está em 150 a 200.”

Situação parecida ocorre em Mato Grosso, que tem o maior rebanho bovino do país, com 28,4 milhões de cabeças. Ali, pelo menos sete fábricas foram afetadas pelo atual cenário de oferta escassa. Em maio, a JBS encerrou temporariamente as operações em São José dos Quatro Marcos. No mês anterior, a Minerva Foods demitiu pelo menos 320 funcionários de sua fábrica em Mirassol d’Oeste. A empresa afirmou que os desligamentos fazem parte do processo de integração da unidade, recém-adquirida da BRF, para garantir maior eficiência operacional. São também resultantes do “atual momento de mercado”.

Fonte: Estadão – 15/06/2015

No início de junho, a JBS suspendeu abates em Ariquemes (RO), alegando “aumento da ociosidade na indústria nacional”. Já a Marfrig decidiu transformar em um centro de armazenagem e distribuição uma de suas fábricas em Promissão (SP). Além disso, paralisou, em janeiro, sua unidade em Rio Verde (GO).

Para a Abrafrigo, a queda na atividade industrial, somada à melhora na oferta de animais, deve promover ajuste no mercado do boi, mas a reversão do ciclo pecuário não deve ocorrer em breve. “O processo de retenção de vacas para aumentar o rebanho e ganhos de produtividade com o melhoramento genético são processos lentos”, explica Salazar.

“A oferta de bois pode melhorar no ano que vem, mas ainda não acreditamos em queda de preços”, afirma o analista da Scot Consultoria, Hyberville Neto. O consultor acrescenta que a desvalorização do boi, por si só, não garante que a situação da indústria vá melhorar, já que as empresas são muito suscetíveis a variações de juros e de preços de insumos. “A possibilidade de mais plantas fecharem ou pelo menos suspenderem abates este ano não é tão remota”, avalia.

 

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