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Livro traz apontamentos de aplicação prática e imediata, diz pesquisadora

Graziela Moraes de Cesare Barbosa também enfatiza a necessidade de produtores rurais adotarem manejos conservacionistas de solo e água

Em abril, a Rede Paranaense de AgroPesquisa e Formação Aplicada (Rede AgroParaná) lançou o segundo volume do livro “Manejo e Conservação de Solo e Água”. O trabalho traz dados inéditos para seis mesorregiões do Paraná, que podem ser aplicados na prática por produtores rurais. Além disso, os estudos revelam que é imprescindível que os agricultores adotem manejos conservacionistas.

Pesquisadora no lançamento do segundo volume do livro “Manejo e Conservação de Solo e Água”

“Os resultados de escoamento superficial e perdas de solo por erosão evidenciam a necessidade de bom manejo de solo e de práticas conservacionistas mecânicas, como os terraços agrícolas, mesmo em áreas sob plantio direto”, diz Graziela Moraes de Cesare Barbosa, em entrevista exclusiva ao Boletim Informativo. Ela é pesquisadora do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-Paraná) e uma das editoras do livro.

Fruto de uma parceria entre o Sistema FAEP, a Fundação Araucária e o governo do Paraná, os estudos congregam sete instituições executoras: IDR-Paraná, Universidade Federal do Paraná (UFPR), Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro) e Instituto Cesumar.  A iniciativa recebeu investimentos da ordem de R$ 21 milhões. Confira a entrevista com a pesquisadora:

Como foi estruturada essa rede que conduziu as pesquisas? Você poderia quantificar essa rede?

A Rede Paranaense de Agropesquisa e Formação Aplicada foi oficializada pelo Decreto Estadual 2.475, de 28 de setembro de 2015, com o objetivo de promover a inovação e a pesquisa cientifica e tecnológica em ambiente produtivo do Paraná. Foram escolhidas seis mesorregiões do Estado: Centro Oriental (Ponta Grossa), sob a coordenação da UEPG; Centro-Sul (Guarapuava), com a Unicentro; Sudoeste (Dois Vizinhos), com a UTFPR; Norte (Cambé) e Oeste (Toledo), ambas na coordenação do IDR-Paraná; Noroeste (Presidente Castelo Branco e Cianorte) com a Unicesumar.

Os estudos e os monitoramentos foram conduzidos regionalmente. Em que escalas se deu esse trabalho?

Em cada mesorregião, os projetos de pesquisa aplicada em manejo e conservação do solo e água envolveram pesquisas em duas escalas: uma em escala de bacia hidrográfica de primeira ordem e outra em escala de megaparcelas, com e sem terraços agrícolas, a fim de estudar o efeito das práticas de manejo e conservação do solo e da água, especialmente com uso de terraços agrícolas no controle do escoamento superficial de água e diminuição da erosão hídrica.

Que tipo de dados os pesquisadores coletaram?

São coletados dados de precipitação, vazão, sedimentos, nutrientes presentes no escoamento superficial, parâmetros químicos, físicos e biológicos do solo, entre outros.

Qual infraestrutura os pesquisadores tiveram para atuar?

No campo, cada seção de monitoramento é constituída de calhas (tipo H e Parshall), régua linimétrica, linígrafo (ou radar), turbidímetro, amostrador automático de sedimentos (ISCO) e demais equipamentos necessários para seu funcionamento. Na área ainda foram instaladas estações meteorológicas. Outra estrutura necessária envolve os laboratórios das instituições parceiras.

De um modo geral, os levantamentos permitem chegar a algumas conclusões em relação a manejo e preservação do solo e da água? Quais?

Os resultados de escoamento superficial e perdas de solo por erosão evidenciam a necessidade de bom manejo de solo e de práticas conservacionistas mecânicas, como os terraços agrícolas, mesmo em áreas sob plantio direto. A falta de terraços em áreas com grande comprimento de rampa intensifica o escoamento superficial de água e dá início ao fluxo concentrado de água, acarretando prejuízos financeiros e ambientais, com perdas potenciais da qualidade do solo. O uso de práticas conservacionistas, o respeito a capacidade de uso do solo e o manejo adequado são determinantes para a redução dos processos erosivos. Os resultados do uso do terraceamento mostram efeito positivo, muito além do controle de escoamento superficial e de erosão hídrica. As pesquisas da Rede Agropesquisa verificaram que ocorre melhoria dos atributos microbiológicos do solo em curto prazo com o uso dos terraços, ora devido a maior retenção de água, gerando maior umidade do solo para os microrganismos, ora perdendo menos material orgânico por erosão.

Em linhas gerais, o que essas pesquisas revelaram sobre a conservação de solo e água no Paraná?

Os produtores paranaenses, muitas vezes, negligenciam os princípios básicos do Sistema de Plantio Direto, em que deve haver o mínimo de revolvimento do solo durante a semeadura, cobertura máxima na superfície do solo e a rotação de cultura, e o uso dos terraços para minimizar o escoamento superficial em chuvas de grande erosividade.

A quem se destina esse segundo volume do livro? Os dados obtidos nas pesquisas podem ser utilizados de forma prática no campo?

Esse volume é destinado aos educadores e estudantes da ciência do solo, pois apresenta resultados monitorados a campo, em grande escala e em manejos utilizados pelos produtores. Também se destina aos técnicos da assistência técnica pública e privada e aos produtores rurais, onde encontrarão opções de manejo das culturas, opções de rotação de culturas regionais e exemplos práticos de um bom manejo do solo.

Os apontamentos das pesquisas podem ter aplicação prática no campo?

Sim. Todos os apontamentos feitos no livro têm aplicação prática e imediata, pois os resultados das pesquisas são coletados no campo, em áreas de produtores, onde todo o manejo do solo e das culturas são realizados por eles.

O segundo volume pode ser considerado complemento do primeiro?

Sim. No primeiro livro foi apresentada a formação da rede, a definição e a forma de escolha e implantação das unidades de coletas (rio e megaparcelas) e a metodologia, que é padrão para toda a rede de estudos. No segundo livro apresentam-se os resultados dos eventos de chuva coletados, bem como as opções de manejo do solo, das culturas, das rotações, do uso de dejetos como opção para adubação, entre outros resultados importantes.

Existe, no país, alguma iniciativa semelhante, em relação à pesquisa de solo e água? Ou a rede é pioneira?

Existem estudos dessa ordem no Rio Grande do Sul, principalmente com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRG) e a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Porém, estudo em rede, nessa dimensão de escala e unidades de monitoramento, o Paraná é o primeiro.

Mesmo com a publicação, os trabalhos de pesquisa continuam? Quais são as perspectivas ou o cronograma da rede?

A obtenção de dados hidrológicos geradas pelos eventos de precipitação são importantes para entender a formação e propagação do escoamento superficial e os processos erosivos. É necessária uma série histórica de monitoramento para que se possa estudar os eventos climáticos extremos e determinar os parâmetros hidrossedimentológico. Dessa forma, será possível gerar opções de novas metodologias de dimensionamento de terraços. Os trabalhos da Rede continuam até 2029, por meio do Novos Arranjos de Pesquisa e Inovação (Napi) Prosolo.

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