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Marketing rural

Duas fantásticas homenagens fo­ram recentemente prestadas aos agricultores. A primeira foi em New Orleans, nos Esta­dos Unidos, durante o intervalo do Super Bowl, a final do cam­peonato de futebol americano. A segunda desfilou na passarela do carnaval carioca. Ambas atin­giram, em todo o mundo, milhões de pessoas.

O longo comercial veiculado nos EUA aproveitou a maior au­diência da televisão para repro­duzir imagens retratando a vida no campo, sob a narração, es­plêndida, de um texto elaborado em 1978 pelo radialista Paul Harvey. O vídeo é emocionan­te. Oferecida ao agricultor exis­tente "dentro de cada um de nós", quase uma oração, intitulada E Deus fez o agricultor, pren­deu a atenção dos ouvintes.

A seguir, sua tradução livre.

E no oitavo dia, Deus olhou pa­ra seu paraíso e disse: "Preciso de alguém que cuide desse lugar".

Então, Deus fez o agricultor.

Deus disse: "Preciso de alguém disposto a levantar antes do ama­nhecer, tirar leite, trabalhar o dia inteiro, tirar leite novamente, jantar e ir até à cidade e ficar até depois da meia-noite numa reu­nião de conselho escolar".

Então, Deus fez o agricultor.

Deus disse: "Preciso de alguém disposto a passar a noite acorda­do cuidando de um potro recém-nascido, vê-lo morrer e enxugar os olhos e dizer "talvez ano que vem". Preciso de alguém que pos­sa transformar um tronco de ár­vore num cabo de machado, ferre um cavalo com um pedaço de pneu usado, que possa fazer um arreio com pedaços de arame, sa­cos de ração e sapatos velhos. Al­guém que, durante a época de plantio e de colheita encerre suas 40 horas de trabalho semanais na terça-feira ao meio-dia e pas­se mais 72 horas penando em ci­ma do trator".

Então, Deus fez o agricultor.

Deus disse, "Preciso de alguém forte o suficiente para derrubar árvores e empilhar fardos, mas ainda gentil 0 suficiente para apa­rar cordeiros recém-nascidos, des­mamar porcos e cuidar de gali­nhas, que seja capaz deparar seu trabalho por uma hora para cui­dar de perna quebrada de passa­rinho. Deve ser alguém capaz de arar fundo, reto e sem moleza. Alguém que semeie, capine, alimen­te, crie, e dome, e are, e plante, e transforme lã em linha e coe leite. Alguém que mantenha uma famí­lia unida com a partilha de laços fortes. Alguém que sorria, e de­pois olhe e agradeça com um sor­riso nos olhos quando seu filho di­ga que quer passar 0 resto da vi­da fazendo 0 que seu pai faz".

Então, Deus fez 0 agricultor.

Os EUA jamais deixaram de prestigiar seus agricultores, os colonizadores. Ruralismo, por lá, soa positivo, mesmo que bu­cólico em certas situações. Sem­pre se cultivou nos EUA o hábi­to de venerar a origem da nação, os empreendedores de outrora. Não difere muito do que ocorre na Europa, onde os produtores rurais são protegidos, fartamen­te subsidiados, para que mante­nham bela a paisagem, protejam o modo de vida, defendam a cultura originária e estimulem o turismo campestre. Nos países desenvolvidos a moderna socie­dade curte o berço do passado.

Carnaval do Rio de Janeiro. Na madrugada da folia, em ple­na Marquês de Sapucaí, a escola de Vila Isabel desfila sob o inusi­tado enredo A Vila canta 0 Brasil celeiro do mundo – Água no fei­jão que chegou mais um. O públi­co se levanta, aplaude, dança, se entusiasma. Incrível. A agricul­tura brasileira, homenageada, indiretamente se sagrou cam­peã do carnaval carioca.

O lindo samba, de autoria de Arlindo Cruz, Martinho da Vila, André Diniz, Tunico da Vila e Leonel, ganhou os corações citadinos enaltecendo a lide rural. A letra fala por si.

O galo cantou/ com os passari­nhos no esplendor da manhã/ agradeço a Deus por ver o dia raiar/ O sino da igrejinha vem anunciar/ preparo o café, pego a viola, parceira de fé/ caminho da roça e semear o grão/ saciar a fo­me com a plantação/ é a lida…/ arar e cultivar o solo/ ver brotar o velho sonho/ alimentar o mundo, bem viver/ a emoção vai florescer

Ô muié, o cumpadi chegou/ puxa o banco, vem prosear/ bota água no feijão, já tem lenha no fo­gão/ faz um bolo de fubá

Pinga o suor na enxada/ a ter­ra é abençoada/ preciso investir, conhecer/ progredir, partilhar, proteger…/ cai a tardei acendo a luz do lampião/ a lua se ajeita, en­feita a procissão/ de noite, vai ter cantoria/e está chegando o povo do samba/ é a Vila, chão da poe­sia, celeiro de bamba/ Vila, chão da poesia, celeiro de bamba

Festa no arraiá,/ é pra lá de bom/ ao som do fole, eu e você/ a Vila vem plantar felicidade no amanhecer.

Aqui, no Brasil, ao contrário dos EUA, os agricultores costu­mam ser tratados com certo desdém pela sociedade urbana que enxerga os homens do cam­po, depreciativamente, como "caipiras". Vem de longe tal desprestígio, cujas razões nun­ca foram devidamente explica­das. Certamente o rápido e ma­ciço êxodo rural contribuiu pa­ra gerar essa imagem negativa. O modemo erguia-se na cidade e agricultura virou sinônimo de atraso.

O ambientalismo recente tem dado lenha para essa visão distorcida sobre o campo. Co­meça pelo desmatamento. An­tes, desmatar era sinônimo de progresso e todas as nações ri­cas ocuparam a totalidade das suas áreas agriculturáveis. Ago­ra, porém, a preocupação com a biodiversidade rema contra a expansão agrícola. O Brasil, que ainda dispõe de muita terra boa para explorar, ficou na contra­mão do relógio da História. Der­rubou, leva bordoada.

Futebol americano, carnaval, agricultura, a criação divina. Misturados com boas doses emoção e alegria, esses díspa­res elementos resultaram em es­petaculares lances de marke­ting rural, valorizando os agri­cultores, seu labor, sua cultura. Oxalá a comunicação entre os mundos urbano e rural flua mais fácil a partir de agora.

Caipira, sim, com muito orgu­lho. E respeitado.

Por Xico Graziano – Estadão – 19/02/2013

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