Sistema FAEP

Reação do consumo de carne no horizonte

Embora os sinais de retomada da economia sejam tímidos, a recomposição do rebanho nacional e o consequente crescimento dos abates será suficiente para estancar a queda do consumo

Proteína preferida dos brasileiros, a carne bovina vem se tornando um item cada vez mais raro na mesa dos consumidores. Afetado pela combinação negativa entre a escassez de gado bovino para abate e a deterioração da renda, especialmente em 2016, o consumo per capita de carne bovina no país recuou para o menor patamar em 15 anos.

Dados preliminares da MB Agro – braço agrícola da consultoria MB Associados – compilados a partir dos abates inspecionados de bovinos apontam que o consumo per capita atingiu 30,7 quilos de carne bovina em 2016, redução de 1,9% na comparação anual. Trata-se do menor nível desde 2001.

A depender dos critérios de cálculo, o tombo do consumo de carne no Brasil foi ainda maior. A consultoria Agroconsult, por exemplo, inclui estimativas de abate sem inspeção sanitária – atividade que diminuiu nos últimos anos, mas que ainda é significativa. Considerando essa metodologia, a disponibilidade per capita de carne no país recuou 6,6%, para 36,8 quilos ao ano.

Mas a boa notícia é que, embora os sinais de retomada da economia ainda sejam tímidos, a recomposição do rebanho nacional e o consequente crescimento dos abates será suficiente para estancar a queda do consumo – que completou três anos seguidos – e iniciar uma trajetória de recuperação, de acordo com analistas ouvidos pelo Valor.

“Estamos com estoque grande de animais, e provavelmente vamos ter aumento significativo dos abates”, afirmou o coordenador de pecuária da Agroconsult, Maurício Nogueira. Conforme projeções da consultoria, a produção de carne bovina no país crescerá de 7% a 11% em 2017. O Brasil é o segundo maior produtor global de carne bovina, atrás dos EUA.

Com mais carne bovina disponível, a expectativa de Nogueira é de que o consumo no país reaja, sobretudo porque nem toda produção adicional será exportada. “Não vamos ter condição de tirar toda essa carne do Brasil, mesmo que as exportações aumentem”, avaliou. A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) projetou, em dezembro, que o volume exportado de carne bovina aumentará 11% (160 mil toneladas), alcançando 1,54 milhão de toneladas.

A avaliação é corroborada pelo analista do Rabobank Adolfo Fontes. Embora menos otimista que a Agroconsult, o banco também prevê incremento da produção de carne bovina. De acordo com Fontes, o crescimento deve ficar próximo a 3%, o que adicionará entre 250 mil toneladas e 300 mil toneladas de carne bovina à produção. “Você tem um aumento de produção que a princípio não seria absorvido. Vai depender do mercado externo”, afirmou o analista.

Se as exportações não forem capazes de enxugar a oferta adicional, o consumo doméstico pode ser estimulado, concordou Fontes, que trabalha com a expectativa de queda dos preços do boi. “Com o aumento de oferta de boi gordo, a tendência é cair o preço da arroba e isso chegar no varejo”, afirmou, destacando que o preço do animal já dá sinais de enfraquecimento. No acumulado de janeiro, o indicador Esalq/BM&FBovespa para o boi gordo em São Paulo recuou 2,36%, para R$ 145,94 a arroba.

Independentemente das exportações, a expectativa do analista do Rabobank é que o consumo de carne no Brasil cresça devido à esperada retomada da economia. O banco holandês estima que o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil crescerá de 0,5% a 1% neste ano. Ainda que pequeno na comparação com a forte retração da economia nos últimos dois anos, é suficiente para influenciar a demanda. Segundo Fontes, a correlação entre o PIB per capita e o consumo de carne bovina no país é forte, de 77,5%.

Mais reticente, o analista César Castro Alves, da MB Agro, acredita em um “pequeno” aumento do consumo no país. Segundo ele, a tendência de queda dos preços das “concorrentes” carnes de frango e suína – que subiram em 2016 devido à disparada das cotações do milho e também amargaram queda no consumo – é um obstáculo para um aumento consistente da demanda por carne bovina. “É improvável”.

Para o consumo de carne bovina “decolar”, o crescimento da oferta de boi no país teria de ser maior do que o inicialmente esperado, afirmou Alves. A MBAgro estima que a produção de carne bovina no Brasil crescerá 3% em 2017. Segundo ele, o aumento da oferta de boi gordo será substancial só a partir do segundo semestre de 2018. Portanto, a queda nos preços para estimular o consumo deve levar mais algum tempo.

Fonte: Valor Econômico

André Amorim

Jornalista desde 2002 com passagem por blog, jornal impresso, revistas, e assessoria política e institucional. Desde 2013 acompanhando de perto o agronegócio paranaense, mais recentemente como host habitual do podcast Boletim no Rádio.

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