Sistema FAEP/SENAR-PR

Redes varejistas investem em rastreabilidade e controle de qualidade em hortifrútis

Produtores que se adequarem podem se beneficiar com novos contratos e até bônus no pagamento. Gargalos são dificuldades com tecnologia, falta de mão de obra qualificada e questões culturais

As grandes redes de varejo têm investido em programas de controle de qualidade e rastreabilidade. Tal medida abre portas para produtores de hortifrútis, como a possibilidade de firmar novos contratos e até mesmo o pagamento de bônus, em alguns casos, desde que as propriedades cumpram pré-requisitos em relação à estrutura e boas práticas agropecuárias. O tema fez parte da reunião da Comissão Técnica (CT) de Hortifruticultura da FAEP, realizada nesta terça-feira (25), na sede do Sistema FAEP/SENAR-PR, em Curitiba.

O presidente da CT de Hortifruticultura, Marco Antonio Machado, enfatizou o quanto a segurança alimentar e a sustentabilidade estão em evidência nos elos da cadeia produtiva nos últimos anos. “Saber da história dos produtos é uma exigência dos consumidores. Isso vale para todas as esferas de negociação, começando pela local, passando pelo Estado, a nível de país e para as exportações. Por isso a importância de promovermos esse debate e estarmos atentos às exigências de mercado”, disse Machado.

Segundo Elisangeles Souza, técnica do Departamento Técnico e Econômico (DTE) do Sistema FAEP/SENAR-PR, os principais avanços em rastreabilidade e qualidade ocorreram após a aprovação de regulamentações. No Estado, a Resolução 748 de 2014 regulamentou tecnicamente a rotulagem de produtos hortícolas in natura, a granel e embalados. A nível federal, a Instrução Normativa (IN) 02 de 2018, publicada em conjunto pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), regula a rastreabilidade de produtos vegetais frescos para fins de monitoramento e controle de resíduos. A construção dessas regulamentações teve papel decisivo do setor produtivo, incluindo o Sistema FAEP/SENAR-PR.

“Hoje, temos que vencer a falta de hábito dos elos da cadeia para fazer o registro e organização das informações. Além disso, temos problemas com questões de reembalagem de produtos, mistura de lotes de diferentes origens nos depósitos do atacado e varejo e as diferenças nas exigências dos compradores e vendedores, com uma falta de padronização nos sistemas”, enumerou Elisangeles.

Investimentos do varejo

A rede varejista Carrefour possui mais de 1 mil lojas e 21 centros de distribuição espalhados pelo Brasil. Nos últimos anos, o grupo tem investido em rastreabilidade e controle de qualidade. Em relação à qualidade, a seção de hortifrútis conta com mais de 700 fichas técnicas que determinam os parâmetros a serem considerados na hora de avaliar e triar as entregas dos fornecedores aos supermercados. “Passou o tempo em que tudo era muito manual, baseado no visual. Hoje, temos grandes equipes em laboratórios para fazer testes observando uma série de parâmetros”, revelou Alexandra Fiorillo, coordenadora de qualidade da Região Sul do grupo Carrefour no Brasil.

Desde 2014, a rede passou a integrar o Programa de Rastreabilidade e Monitoramento de Alimentos (Rama), idealizado pela Associação Brasileira de Supermercados (Abras). Dentro da iniciativa estão previstas etapas de coleta de amostras nos estoques e laudo realizado por laboratórios homologados pela Anvisa. Ao todo, cerca de 600 amostras por ano são analisadas, metade envolvendo fornecedores de marcas próprias, e os outros 50%, fornecedores nacionais. De 2014 a 2021, segundo Alexandra, foram feitas 3,8 mil análises, de mais de 300 fornecedores.

Outro projeto relacionado à rastreabilidade e qualidade na rede Carrefour é a participação da organização no Comitê Minor Crops, do qual o Sistema FAEP/SENAR-PR é um dos organizadores. Há ainda a contribuição com treinamentos puxados por grandes empresas do setor de agroquímicos, como a Bayer. Outros pontos de ação estão ligados a travas e alertas automáticos em sistemas informatizados, como os que proíbem o recebimento de mercadorias de empresas que estejam com alertas de desmatamento pelo Ibama e/ou problemas com o Ministério Público do Trabalho (MPT).

A rede de supermercados Angeloni, por sua vez, também conta com uma ficha técnica detalhada para que os produtores tenham como saber os critérios na hora de fornecer produtos ao grupo. A empresa que nasceu em Santa Catarina possui hoje 34 lojas, seis delas no Paraná. A conferência de item por item dos hortifrútis, conforme pré-requisitos estabelecidos, é feita no ato de recebimento. As equipes têm autonomia para aprovar ou não a entrada dos produtos nas lojas. E para auxiliar nesse processo, todos os fornecedores do Angeloni precisam usar o mesmo sistema.

Para a analista de negócios do Angeloni, Cassia Hashimoto, há muitos avanços, mas alguns gargalos precisam ser vencidos por parte dos fornecedores que querem se beneficiar do mundo dos hortifrútis rastreados e com qualidade. “Percebemos muitas dificuldades tecnológicas, alguns produtores que não conseguem acessar o próprio email; também vemos o problema de falta de mão de obra qualificada; e o estigma de que fornecer para supermercados tem muita devolução”, enumerou Cassia.

Antonio Senkovski

Repórter e produtor de conteúdo multimídia. Desde 2016, atua como setorista do setor agropecuário (do Paraná, Brasil e mundial) em veículos de comunicação. Atualmente, faz parte a equipe de Comunicação Social do Sistema FAEP/SENAR-PR. Entre as principais funções desempenhadas estão a elaboração de reportagens para a revista Boletim Informativo; a apresentação de programas de rádio, podcasts, vídeos e lives; a criação de campanhas institucionais multimídia; e assessoria de imprensa.

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