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Uruguai sonha com o Brasil para exportar mais trigo

O trigo uruguaio ganha força para invadir o mercado brasileiro. A qualidade do grão e o aumento na produtividade devido ao clima favorável no país chamam a atenção da indústria brasileira, que já sinaliza interesse em adquirir mais do produto. "O triticultor uruguaio está aprimorando o trigo para atender o Brasil", afirma.Ana Paula Kowalski, analista de Mercado da AF News.

Segundo Kowalski, nos primeiros nove meses deste ano, se comparado ao mesmo período em 2009, o Brasil já avançou 19,5% nas importações de trigo, principalmente em fontes do Mercosul. Apesar de a Argentina continuar como a principal fornecedora do grão para o País, o Uruguai, nos últimos anos, vem aumentando sua participação no mercado brasileiro.
Dados da AF News apontam que de janeiro a setembro de 2010, as importações brasileiras de trigo do Uruguai somaram 731 mil toneladas.
Para a analista, o país que começa a colher no próximo mês, deve disponibilizar uma maior quantidade de trigo para o Brasil, fazendo com que os moinhos intensifiquem ainda mais as importações. "Nos primeiros nove meses do ano já observamos um avanço de 2%", diz.

Na outra ponta, o produtor brasileiro que esperava recuperar as perdas devido a interferências climáticas ocorridas em 2009, na atual safra, por falta de qualidade, vê o mesmo cenário de dificuldade para comercialização no mercado doméstico se repetir. "O cereal paranaense até agora tem registrado limitações quanto à força do glúten necessária para panificação", explica a analista.

Estatística da AF News mostra ainda que o Uruguai, que também compete o mercado brasileiro com o Paraguai já ultrapassou os embarques do produto paraguaio para o Brasil. Em 2009, de janeiro a setembro, o Paraguai enviou para o País 602 mil toneladas de trigo, ante 371 mil no mesmo período em 2010.
De acordo com Kowalski, as exportações do Paraguai têm diminuído justamente por apresentar problemas semelhantes aos registrados no trigo do Brasil.
O triticultor brasileiro que contou em 2009 com o apoio do governo Federal, com o Prêmio para Escoamento de Produto (PEP), pode em 2010 não obter o mesmo resultado. Já que ainda resta, segundo Lawrence Pih, proprietário do Moinho Pacífico, entre 20% e 30% do repasse dos quase R$ 500 milhões para a indústria.
Segundo Kowalski, o governo Federal deve disponibilizar a partir de novembro de 2010 um subsídio de R$ 300 milhões para a realização de novo PEP.

Para Pih, a solução para o trigo nacional, que pela falta de segregação do grão que este ano comprometeu a qualidade do produto, está na possibilidade de exportação. "O PEP deve ser feito para exportar. O mercado internacional não é tão criterioso", afirma.
Por outro lado, a analista considera que o governo pode realizar o PEP para levar trigo gaúcho para o nordeste. Em 2009, de acordo com Kowalski, foram embarcados via PEP 1,14 milhão de toneladas do grão, principalmente para os Estados Unidos e Filipinas.
Segundo o proprietário do Pacífico, enviar o cereal do Rio Grande do Sul para o nordeste não diminui o volume de trigo que está atualmente nos estoques do governo. "O nordeste não tem tanta demanda", afirma, lembrando que o País possui um estoque de passagem de 1,7 milhão de toneladas de trigo e 5,5 milhões de toneladas produzidas.

Com o apoio de R$ 300 milhões em leilões do governo, de acordo com Pih, é possível colocar no mercado externo três milhões de toneladas do cereal. Considerando um subsídio em torno de US$ 60 por tonelada. "O importante é o governo honrar com os pagamentos", observa.

De acordo com Pih, em 2009, quando boa parte do trigo escoado via PEP teve como destino o mercado externo, as empresas exportadoras também ficaram sem parte do repasse do PEP. "Assim como os moinhos, as traders não tem caixa para segurar."
Para Narciso Barison, presidente da Associação dos Produtores e Comerciantes de Sementes e Mudas do Rio Grande do Sul (Apassul), o trigo do Paraná está de acordo com as necessidades da indústria. "Se o triticultor não tiver renda este ano de novo, na próxima temporada a área cultivada vai recuar", afirma.

DCI – Diário do Comércio & Indústria
Por Alécia Pontes

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