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Valor do leite em pó no mercado global bate piso histórico de baixa

Entre janeiro e abril, as vendas externas de lácteos caíram 43,7% em receita, para US$ 70,4 milhões e 41% em volumes, para 118,4 mil toneladas

A menor demanda da China e da Rússia por lácteos e o consumo usualmente elevado de manteiga nos Estados Unidos, combinados com uma grande oferta de leite no mercado internacional, derrubaram os preços do produto em pó desnatado para o menor nível histórico. No último leilão global quinzenal de lácteos realizado pela plataforma Global Dairy Trade (GDT), do qual participa a Fonterra, maior cooperativa de lácteos do mundo, no dia 20, a tonelada do leite em pó desnatado ficou em US$ 1.992. O valor é o menor desde 2 de março de 2010, quando o produto começou a ser comercializado no pregão.

As cotações do leite em pó integral e do desnatado no leilão GDT são referências para os preços no mercado internacional de lácteos, pois grandes players desse segmento participam do pregão. Além do que, os volumes negociados dão uma indicação do comportamento da demanda internacional no segmento.

Os valores do leite em pó integral também estão em patamares bem inferiores aos dos últimos anos, mas já chegaram a ser menores do que atualmente. O produto, cuja cotação atingiu US$ 5.245 por tonelada em abril de 2013 – graças, sobretudo, à forte demanda chinesa -, foi negociado a US$ 2.390 no último leilão.

O último índice de preços globais de alimentos divulgado pela FAO, braço das Nações Unidas para alimentação e agricultura, em abril, corrobora a tendência de queda do mercado de lácteos. O índice ficou em 172,4 pontos, o menor desde meados de 2006.

Se por um lado preocupa os produtores de leite, de outro, o recuo dos preços internacionais favorece as empresas que importam lácteos. De fato, a queda já tem estimulado as importações por parte de empresas brasileiras, principalmente para o uso industrial.

De janeiro a abril, as compras somaram US$ 137,7 milhões, alta de 8,7% em relação a igual período do ano passado. Em volume, porém, o crescimento das importações foi muito mais expressivo, de 80%, para 327,5 mil toneladas, conforme dados da Secex, compilados pela MilkPoint, especializada em lácteos. Já as exportações perderam força. Entre janeiro e abril, as vendas externas de lácteos caíram 43,7% em receita, para US$ 70,4 milhões e 41% em volumes, para 118,4 mil toneladas.

De acordo com Valter Galan, analista da MilkPoint, consultoria especializada em lácteos, há uma conjunção de fatores pressionando o mercado global de leite em pó. A produção de matéria-prima cresceu nos grandes exportadores mundiais, tais como Nova Zelândia, EUA e União Europeia. Ao mesmo tempo, a China, o grande fiel da balança nos últimos anos, reduziu as compras porque está estocada. Com isso, “o ritmo de crescimento da demanda por lácteos no país asiático diminuiu”, diz Rafael Ribeiro, analista da Scot Consultoria.

Há também um reflexo das importações menores da Rússia, avalia Galan. Isso começou a partir de agosto do ano passado, quando Moscou decidiu retaliar países do Ocidente que lhe impuseram sanções por conta do conflito geopolítico na Ucrânia.

Galan explica que os preços internacionais do leite em pó desnatado caíram mais que os do que o integral porque os níveis dos estoques do produto nos EUA estão elevados atualmente. Segundo ele, as cotações do leite em pó desnatado são bastante influenciadas pelo que ocorre no mercado americano. A razão é que o país é um grande consumidor de manteiga, e como consequência, um grande produtor de leite em pó desnatado. Para produzir o leite desnatado é necessário retirar a sua gordura, que é transformada em manteiga ou creme de leite, por exemplo.

Rafael Ribeiro, da Scot, observa que as importações brasileiras de lácteos podem continuar a crescer se houver recuo do dólar no atual cenário de preços baixos do produto no mercado internacional. Ele observa, porém, que “hoje a importação não é essencial” pois há oferta no mercado interno.

Afora os preços convidativos para a importação, há outro fator de estímulo, acrescenta Galan, da MilkPoint. Neste momento, Argentina e Uruguai estão mais propensos a ofertar para o mercado brasileiro, uma vez que a Venezuela, que importa lácteos desses dois países, enfrenta problemas de crédito.

Há quem considere, como Laércio Barbosa, do Laticínios Jussara, que o fim do regime de cotas para produção de leite na União Europeia já possa estar influenciando os preços internacionais de lácteos. Mas Galan, da MilkPoint, avalia que o mercado ainda não reflete a decisão que entrou em vigor no fim de março. “No longo prazo, a UE tende a aumentar a oferta de leite, mas os preços agora não estimulam o incremento da produção”, afirma.

Fonte: Valor Econômico

André Amorim

Jornalista desde 2002 com passagem por blog, jornal impresso, revistas, e assessoria política e institucional. Desde 2013 acompanhando de perto o agronegócio paranaense, mais recentemente como host habitual do podcast Boletim no Rádio.

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