O acordo de livre-comércio recém-anunciado entre o Mercosul e a União Europeia (UE) deve criar condições bastante positivas para o agronegócio paranaense. Assim que o tratado for efetivado, a agricultura e a pecuária do Estado terão acesso mais fácil – alguns produtos, de imediato e sem tarifas – a um mercado que conta com 500 milhões de consumidores. Abrem-se, com isso, perspectivas bilionárias tanto para atividades em que o Paraná já tem tradição internacional, como o de carnes bovina, suína e de aves, quanto para produtos em que há potencial de expansão ao mercado europeu, como etanol e pescados.
Pela proposta, as tarifas de importação entre os dois blocos econômicos serão zeradas dentro de um período de dez anos. Cerca de 92% dos produtos hoje exportados pelo Mercosul à UE serão beneficiados pela isenção. Para que passe a valer, o tratado ainda precisa ser referendado pelo parlamento de cada um dos quatro países que compõem o Mercosul e das 28 nações que fazem parte da UE. A expectativa é de isso ocorra em um período entre dois e três anos.
De cara, os termos do acordo foram bem recebidos pelo setor agropecuário do Paraná, que se vê mais perto de um mercado consumidor qualificado e com alto poder aquisitivo. De quebra, o agronegócio estadual espera que a aliança com a UE propicie um salto em tecnologia, do plantio à agroindústria.
“Nós sempre estivemos prontos para atender às exigências dos mercados mais exigentes do mundo. Mas antes havia barreiras burocráticas típicas do comércio internacional. Com o acordo, tudo tende a se tornar mais viável. É uma grande oportunidade ao agronegócio do Paraná e um incentivo para que continuemos apostando em qualidade”, definiu o presidente do Sistema FAEP/SENAR-PR, Ágide Meneguette.
As cifras envolvidas no negócio são impressionantes. De acordo com a análise inicial do Departamento Técnico Econômico da FAEP, o acordo envolve um universo de 780 milhões de consumidores e países que, juntos, somam Produto Interno Bruno (PIB) de 20 trilhões de dólares. “Ou seja, 25% do PIB mundial. A perspectiva é de que nos
próximos 15 anos, o fluxo de comércio, ou seja, importações e exportações entre o Mercosul e a União Europeia alcance R$ 1 trilhão”, destaca o economista da FAEP Luiz Eliezer Ferreira.
Cotas
As tarifas não serão zeradas imediatamente para uma lista de produtos. O acordo estabelece cotas de importação e exportação com alíquotas reduzidas. Assim que a comercialização ultrapassar o volume pré-estabelecido, voltam a valer as taxas que vigoram antes da oficialização do tratado. Esse sistema deve ampliar a competitividade de produtos em que o agronegócio do Paraná já está consolidado internacionalmente.
No caso da carne de frango, por exemplo, o acordo abre a possibilidade para que o Mercosul exporte, com tarifa zero, até 180 mil toneladas por ano para UE. No ano passado, mesmo com uma alíquota de exportação de 20%, o Paraná já mantinha presença significativa no mercado europeu: embarcou 100 mil toneladas a países do bloco. Com condições comerciais favoráveis, a expectativa é de um cenário ainda melhor para a avicultura paranaense.
Para a carne bovina, a cota estabelecida é de 99 mil toneladas, com alíquota de 7,5% – bem menor que os atuais 20%. O Paraná, que já é um grande exportador para a UE, pode ampliar sua participação apostando em qualidade. Um levantamento da FAEP aponta que cada tonelada exportada pelo Paraná à UE foi negociada a um preço, em média, 1 mil dólares maior em relação ao exportado para a China. Isso indica o interesse do mercado europeu em cortes nobres, com maior valor agregado.
“Os europeus são mais exigentes na questão da qualidade e estão dispostos a pagar por isso. É um mercado que requer uma carne que tenha passado por um processo diferenciado. Eles querem uma carne macia, de animais jovens. Toda essa qualidade é bem remunerada, o que abre as portas para a produção paranaense de um produto de mais qualidade”, aponta o pecuarista especializado em carnes nobres Rodolpho Botelho, também presidente da Comissão Técnica de Bovinocultura de Corte da FAEP e
do Sindicato Rural de Guarapuava.
Outro setor com boas perspectivas é o do complexo sucro-energético. Foram afixadas cotas com tarifa zero para o açúcar (de 180 mil toneladas) e para o etanol (450 mil toneladas para o produto voltado à indústria e 200 mil para o combustível). Trata-se de produtos nos quais o Paraná teve participação inexpressiva no mercado
europeu no ano passado – com a exportação do equivalente a pouco mais de meia tonelada de açúcar.
Tarifas zeradas gradativamente
Outros produtos não tiveram cotas definidas, ou seja, poderão ser comercializados de forma livre, com taxas especiais. É o caso da tilápia,
cujas tarifas devem ser zeradas entre quatro e 10 anos. Maior produtor deste pescado no Brasil, o Paraná atingiu a marca das 123 mil toneladas em 2018. As empresas paranaenses, que já miravam o mercado internacional, se veem ainda mais otimistas diante das perspectivas trazidas com o acordo.
A C. Vale, cooperativa sediada na região Oeste do Paraná, por exemplo, tem a meta de ampliar o número de abates, de 80 mil para 90 mil tilápias por dia. Embora apresente
certa cautela – já que o acordo ainda precisa sair do papel –, o presidente da cooperativa, Alfredo Lang, aponta que o tratado pode abrir mercado ao pescado paranaense. Tudo vai depender, no entanto, de como o mercado se comportará e da relação de demanda.
“Caso venha a se concretizar, [o acordo] será positivo porque representará um novo mercado para comercializar nossos produtos. Nós temos planos de aumentar a produção
gradativamente nos próximos anos. A velocidade com que faremos isso dependerá das condições de mercado e do interesse dos produtores em investir na atividade”, apontou Lang.
Para outros produtos – como café, fumo, óleos vegetais – e frutas – como uvas frescas, melancia, maçã e abacate – também não haverá cotas de comercialização. A importação e exportação serão a partir de tarifas reduzidas gradativamente até a desoneração total – dentro do chamado período de desgravação.
Um horizonte favorável, principalmente, ao café paranaense, que já tem na UE um de seus grandes mercados. No ano passado, o Estado exportou 23 mil toneladas ao bloco
europeu – o que corresponde a quase um terço das vendas externas do grão produzido no Paraná.
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