Sistema FAEP

Apesar do recorde de produção, suinocultura não melhora remuneração ao produtor

Levantamento de Custos de Produção realizado pelo Sistema FAEP revela cenário de sucateamento das granjas e dificuldades financeiras na atividade

Nos últimos 12 meses, a suinocultura paranaense experimentou um momento de consolidação, com crescimento significativo da produção e da exportação. Em 2024, o Estado atingiu o marco histórico de abate, com 12,4 milhões de suínos. O cenário positivo se manteve no início deste ano, com o Paraná respondendo por 22% dos abates do país, que ganhou novos mercados internacionais.

Apesar destes avanços expressivos, dentro da porteira, o setor ainda enfrenta desafios, com elevado custo de produção, que compromete a rentabilidade dos suinocultores, mesmo em momentos de alta nos preços do suíno vivo. Essa percepção está evidente no levantamento dos custos de produção da suinocultura integrada paranaense realizado pelo Sistema FAEP em junho deste ano. O trabalho é realizado há mais de 15 anos, permitindo que a classe produtora conheça seus números, além de fornecer subsídios para as negociações junto às agroindústrias integradoras.

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O levantamento também tem benefícios indiretos ao servir como referência de mercado para produtores independentes e cooperados, além de embasar o Sistema FAEP no pleito de políticas públicas para a atividade.

“Para crescer com rentabilidade, o produtor precisa conhecer a própria atividade em detalhes e trabalhar a gestão do empreendimento rural. O levantamento realizado pelo Sistema FAEP permite, identificar pontos de melhora”, destaca o presidente interino do Sistema FAEP, Ágide Eduardo Meneguette.

Neste último levantamento participaram suinocultores membros de seis diferentes Comissões de Acompanhamento, Desenvolvimento e Conciliação da Integração (Cadecs) no Paraná, sendo três nos Campos Gerais e três na região Oeste de diferentes fases produtivas da atividade: Unidade de Crechário (UC); Unidade Produtora de Desmamados (UPD) e Unidade de Terminados (UT). Cada Cadec serve de espaço de diálogo paritário e harmônico entre a agroindústria integradora e os produtores rurais integrados. Nestas comissões ocorrem as negociações, estabelecem parâmetros de produção e outros detalhes da relação entre as partes.

Em 2024, Paraná abateu 12,4 milhões de suínos, recorde histórico

Em linhas gerais, o desempenho financeiro das granjas piorou na comparação com o levantamento realizado em novembro de 2024. Segundo Nicolle Wilsek, técnica
do Departamento Técnico e Econômico (DTE) do Sistema FAEP, a UPD localizada no Oeste registrou os resultados mais preocupantes. “Dentre os fatores que contribuíram para esse cenário, houve a implantação de novos manejos nas propriedades, com aumento nos custos variáveis. Acompanhando a situação atual de juros elevados, o custo fixo também teve alta relevante”, detalha.

Nessa integração, o preço recebido pelo leitão não cobre sequer os Custos Variáveis (veja os detalhes no quadro ao lado). O Custo Total, que inclui a remuneração do capital e as depreciações, aumentou 64% entre novembro de 2024 e junho de 2025. Enquanto o produtor recebe R$ 47,80 por leitão, o Custo Total para produzir esse animal alcançou R$ 79,51. Dessa forma, o prejuízo é de R$ 54,86 por leitão, contra R$ 18,24 no levantamento anterior.

“Mesmo em momentos de forte exportação e valorização no mercado internacional, a margem líquida do integrado permanece negativa, pois os custos de produção seguem elevados e não são integralmente repassados”, observa Deborah de Geus, produtora e presidente da Comissão Técnica de Suinocultura do Sistema FAEP.

Em relação a UPD localizada nos Campos Gerais, mesmo com aumento no número de leitões produzidos, o saldo sobre o Custo Total está negativo em R$ 23,45 por animal. “Historicamente, esta é uma Cadec que negocia assiduamente com a integradora em busca de melhora nos resultados. Se não tivesse uma atuação da Cadec nas negociações, com uso dos números do levantamento, a situação estaria ainda pior”, analisa Nicolle, do Sistema FAEP.

Nas duas integrações de Unidades Crechário (UC) analisadas, a situação é semelhante. Na região Oeste, a atividade consegue remunerar o Custo Variável, com lucro de R$ 1,56 por leitão. Porém, o Custo Total segue negativo, com prejuízo de R$ 7,97 por animal. Já nas granjas desta fase produtiva localizadas nos Campos Gerais, a remuneração não cobre sequer o Custo Variável, que ficou negativo em R$ 3,45 por cabeça. Se analisarmos o Custo Total, o prejuízo é de R$ 17,56 por leitão.

Para o suinocultor Angelo Nabozny, que possui duas granjas com capacidade para alojar 2,7 mil animais cada uma, localizadas em Ponta Grossa, sem a remuneração adequada, muitos produtores terão problemas num futuro próximo. “A integradora não computa vários custos, como a depreciação dos equipamentos. Então, as pessoas se mantêm na atividade sucateando suas instalações. Não tem retorno para realizar investimento”, aponta. Segundo Nabozny, a despesa mais significativa é a energia elétrica. Isso porque a região dos Campos Gerais demanda mais recursos para aquecer as granjas no inverno. Em segundo lugar, o produtor elenca o custo de mão de obra.

Na região Oeste, o suinocultor Udo Herpich que também atua na fase de crechário, destaca a mão de obra como principal despesa. “Pesa bastante e, cada vez mais, porque, além de cara, está bastante escassa”, avalia.

Com dois galpões e uma capacidade total para alojar 11 mil animais, Herpich destaca a importância do levantamento de custos do Sistema FAEP para balizar a atividade e, principalmente, a relação com as integradoras. “Os números do levantamento precisam ser divulgados para que as integradoras saibam dos nossos custos. No cálculo da integradora, vários itens não entram”, lamenta.

Para o produtor, o trabalho do Sistema FAEP também ajuda a trazer um olhar mais qualificado para dentro do negócio. “É importante analisar a planilha, pois às vezes a gente não enxerga algumas coisas e ficamos andando em círculo”, pondera.

O suinocultor Udo Herpich em frente à sua granja

Terminação

Na análise das Unidades de Terminação (UT), o trabalho do Sistema FAEP também identificou significativa piora na saúde financeira das granjas. “Os resultados preocupam, principalmente por se tratar da fase mais simples na suinocultura, na qual o suíno depende menos de imunizações ou cuidados específicos. Deveria apresentar melhor rentabilidade financeira para o produtor, o que não ocorre”, alerta Nicolle, do DTE do Sistema FAEP.

A remuneração dos produtores que atuam na integração da região Oeste não foi suficiente para sequer cobrir os Custos Variáveis, que compreendem as despesas básicas para produção do lote.
Ao analisar o Custo Total, o prejuízo é de R$ 40,89 por suíno terminado. Assim como em outras etapas produtivas, o custo da mão de obra é o que mais onera a atividade, representando 37,64% dos Custos Variáveis. Na integração localizada nos Campos Gerais, a situação melhorou em relação ao levantamento realizado em novembro do ano passado. “Houve alta de 24% no valor recebido pelo suíno terminado, em parte pela forte negociação exercida pela Cadec”, aponta Nicolle. A atividade conseguiu cobrir os Custos Variáveis, mas não os Custos Operacionais nem os Custos Totais, que ficaram negativos em R$ 36,28 por suíno terminado.

“A suinocultura paranaense vive um cenário de expansão produtiva e comercial, sustentado pela organização da cadeia, pela conquista de novos mercados e por um ambiente sanitário favorável. No entanto, a rentabilidade ainda é um ponto de atenção, exigindo gestão eficiente, inovação tecnológica e políticas efetivas de apoio à produção”, finaliza a técnica do Sistema FAEP.

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Entrevista

A presidente da Comissão Técnica de Suinocultura do Sistema FAEP, Deborah de Geus, comentou os resultados do último levantamento de custos. Confira!

Sistema FAEP – Em 2025, os custos de produção continuam elevados, comprometendo a rentabilidade dos produtores. No curto prazo, o que poderia ser feito para reverter essa situação?
Deborah de Geus – Uma das principais medidas é a revisão dos modelos contratuais, buscando maior equilíbrio entre indústria e produtor. É fundamental que os
contratos não cubram apenas os custos variáveis, mas também parte dos custos fixos, que hoje ficam descobertos. O Sistema FAEP tem feito um trabalho importante de levantamento dos custos junto aos produtores, para dar transparência e subsidiar uma negociação coletiva mais justa.
Também é necessário pensar em mecanismos de remuneração mais modernos, como gatilhos nos contratos, que permitam repassar parte dos ganhos obtidos pela indústria – seja com exportações ou valorização no mercado – diretamente ao produtor. Afinal, para que a cadeia seja realmente sustentável, precisa existir uma relação de ‘ganha-ganha’, onde tanto a indústria quanto o suinocultor tenham viabilidade econômica. O integrado faz sua parte: entrega produtividade, eficiência e qualidade. Agora é hora de garantir que esse esforço seja devidamente reconhecido dentro da cadeia.

– De que forma as Cadecs contribuem para minimizar a queda na remuneração do suinocultor integrado?
– As Cadecs permitem maior transparência na composição de custos, fortalecem a negociação coletiva dos produtores com as agroindústrias e possibilitam a
revisão de parâmetros contratuais, de forma a aproximar remuneração e realidade dos custos.
Além disso, as Cadecs abrem espaço para discutir mecanismos de remuneração mais equilibrados, como gatilhos vinculados ao mercado, assegurando maior previsibilidade e sustentabilidade econômica na atividade.

– Qual a contribuição que este levantamento de custos de produção, promovido pelo Sistema FAEP, traz para a cadeia produtiva?
– Ele traz clareza sobre a realidade do produtor, mostrando de forma transparente onde estão os maiores gastos e qual é a margem real da atividade. Com esses
dados em mãos, a gente ganha força para negociar de forma mais justa com a indústria e para buscar políticas públicas que ajudem a equilibrar a cadeia. É um instrumento que dá voz e respaldo técnico ao produtor.

Relações com a Imprensa

O Departamento do Sistema FAEP desenvolve a divulgação das ações da entidade. Entre suas tarefas, uma é o relacionamento com a imprensa, incluindo a do setor agropecuário e também os veículos

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