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Até a feijoada já tem participação chinesa

A presença dos produtos chineses no Brasil pode ser medida em bilhões de dólares, principal razão de preocupação por parte dos mais diversos setores ligados à indústria. Mas chama mais atenção quando ocupa um espaço tão simbólico – e inofensivo – quanto uma tradicional feijoada no sábado à tarde.
O número passa praticamente em branco nas estatísticas de comércio exterior, mas elas mostram que a China é o maior exportador de feijão preto para o Brasil em 2011. Entre janeiro e agosto, o país importou 53 mil toneladas da leguminosa colhida nos campos chineses, mais da metade de todo o volume trazido de fora. Essa importação pode bater o recorde de 2008, quando superou as 90 mil toneladas. Trata-se de um volume pequeno, considerando o tamanho do mercado nacional. No último ano, os brasileiros consumiram aproximadamente 3,5 milhões de toneladas de feijão, enquanto a produção doméstica passou de 3,7 milhões de toneladas.
Embora autossuficiente, o Brasil precisa importar pequenas quantidades para suprir o consumo de feijão preto, uma variedade com menos valor de mercado que o carioca e que responde por aproximadamente 6% a 8% do consumo doméstico, de acordo com Valdemar Ortega, administrador da "Bolsinha do Feijão", em São Paulo, maior central de comercialização do produto no país.
Tradicionalmente, são os vizinhos argentinos que suprem a lacuna. Mas a história começou a mudar em 2008, com a quebra da produção no parceiro do Mercosul. "Os importadores tiveram de procurar uma fonte alternativa, e encontraram na China um país capaz de nos suprir na ocasião", conta Ortega. Naquele ano, os chineses exportaram mais de 90 mil toneladas de feijão para o Brasil, superando pela primeira vez os argentinos, que embarcaram pouco mais de 85 mil toneladas.
Ortega conta que essas primeiras importações chinesas foram um negócio de ocasião, mas despertaram o interesse do gigante asiático por uma parceria mais longa. "Os chineses estavam com estoques elevados em 2008, e tiveram a chance de se desfazer de parte deles a preços bastante interessantes. Mas eles perceberam que poderiam ser fornecedores de feijão para o Brasil, e se prepararam para isso", observa.
O feijão preto chinês não encontrou qualquer dificuldade para entrar no mercado brasileiro. Tem boa qualidade e custa menos que o produto produzido no Brasil e na Argentina. "No início, veio para suprir a lacuna aberta por uma quebra de safra. Agora, cresce porque eles veem uma oportunidade de mercado", afirma Tania Moreira, economista da Federação de Agricultura do Estado do Paraná (Faep).
A entrada do produto chinês tem contribuído para elevar as importações totais de feijão preto. Entre janeiro e agosto, o Brasil importou mais de 105 mil toneladas de feijão preto, o dobro da média para o período nos cinco anos anteriores – 57,3 mil toneladas. A avalanche dos importados fez com que os produtores do Sul do país pedissem socorro no começo do ano, pico da chamada ‘safra das águas’, quando os preços estavam baixos.
O então ministro da Agricultura, Wagner Rossi, avaliou colocar travas à importação de feijão comprado abaixo do preço mínimo de garantia, de R$ 80 por saca. No entanto, a proposta parece ter sido abandonada. "Não vejo nenhuma necessidade de se levantar barreiras à importação e não há qualquer discussão nesse sentido na Pasta", afirma Célio Porto, secretário de Relações Internacionais do Agronegócio no Ministério da Agricultura.
Tania Moreira observa que, em 2008, a importação de feijão chinês não foi suficiente para derrubar os preços em um mercado com oferta escassa. "Mas, se houver continuidade no aumento das importações da China, pode haver prejuízos aos preços pagos aos produtores, causando excedente de produto no mercado". Para Ortega, o risco de uma "invasão chinesa" é limitado porque os chineses plantam apenas feijão preto. "Graças a Deus eles ainda não produzem feijão carioca", agradece.
Fonte: Gerson Freitas Jr. – Valor Economico

 

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