Enquanto o impacto da seca sobre a produção de grãos preocupa nas regiões central e norte do país, mais ao sul é o excesso de chuvas que causa apreensão.
No Paraná e Rio Grande do Sul, os produtores ainda avaliam a extensão dos danos, aparentemente pontuais. Já em Mato Grosso do Sul, a situação é um pouco mais grave e perdas de produtividade já são dadas como certas.
“Estimamos, de forma geral, uma perda de 5% a 10% da produção no sul do Estado pelo alagamento de áreas”, diz Christiano Bortolotto, presidente da Aprosoja/MS, associação que representa os produtores locais. Com essa contribuição negativa, a produção total da oleaginosa deve somar 7,26 milhões de toneladas, 2% aquém da perspectiva inicial de 7,4 milhões.
Mato Grosso do Sul é o quinto maior produtor de soja do Brasil, e deve ser responsável por 7,5% da oferta nacional da oleaginosa na atual safra 2015/16. Apesar dessa colaboração relativamente pequena, a combinação de possíveis quebras em outros Estados deixa o mercado em alerta.Agricultores do norte de Mato Grosso do Sul enfrentaram problemas com o atraso de chuvas no plantio de 2015/16, a partir de meados de setembro, mas depois as precipitações se normalizaram. Já os do sul tiveram um início de safra mais tranquilo, mas nos últimos 100 dias as chuvas foram volumosas demais. A região está sob a influência do El Niño, fenômeno climático que leva mais umidade ao Sul do país.
“Tínhamos a expectativa de uma produtividade média de 51 sacas por hectare, mas já baixamos para 50, mesmo nível da safra passada”, afirma o representante da Aprosoja/MS. A associação calcula que 1,37 milhão de hectares (cerca de 57% da área plantada com a commodity no Estado) tenham sido comprometidos. Desse total, em uma avaliação prévia, ao menos 130 mil hectares podem apresentar perda total, em um prejuízo estimado em 390 mil toneladas e quase R$ 470 milhões. Entretanto, como a previsão de rendimento no norte do Estado melhorou, houve uma certa compensação na estimativa para a safra total, que não recuou significativamente.
As cidades de Amambai, Aral Moreira, Ponta Porã e Laguna Carapã são as mais afetadas e também as que estão dando a partida na colheita em Mato Grosso do Sul. Há relatos de lavouras em ponto de colheita, mas onde os trabalhos não começaram por falta de infraestrutura de transporte da safra, principalmente devido ao atoleiro.”Os próximos dias serão determinantes. Caso se confirme o sol previsto até sábado, muita estrada será recuperada e a colheita avançará. Cerca de 10% da área total do Estado deve ser colhida nos próximos cinco dias”, diz Bortolotto.
<p>No Paraná, segundo maior produtor de soja do país, atrás de Mato Grosso, a situação das estradas também preocupa. “O que a gente tem é falta de estradas, já que muitas pontes foram destruídas com a chuva forte”, diz Narciso Pissinati, presidente do sindicato rural de Londrina, no norte paranaense.</p>
<p>Conforme Pissinati, 19 pontes que servem ao município sofreram danos, das quais seis “desapareceram debaixo d’água”, e o governo municipal tem intensificado os trabalhos nos últimos dias para recuperar essas vias. Parte dos produtores pode até ter de percorrer um trajeto maior para entregar a produção, mas a expectativa é que as estradas estejam reparadas até o pico da colheita, em meados de fevereiro.
No Paraná
Em relatório divulgado ontem, o Departamento de Economia Rural do Paraná (Deral) informou que 1% da área plantada com soja está colhida, aquém dos 4% de um ano atrás. O clima colaborou para o plantio no fim de 2015, mas nas últimas duas semanas chuvas fortes atingiram as lavouras. “Mesmo assim, não acho que haverá um problema grande de produção. Se tiver alguma perda, será algo em torno de 5% ou 6%”, diz Pissinati.
No Rio Grande do Sul, a colheita de soja ainda não começou e, por ora, não há relatos de perdas expressivas devido às chuvas, de acordo com a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado (Emater/RS). “Tem um ou outro produtor [com problemas], mas nada significativo. Semana passada não choveu e também não deve chover nesta”, diz o agrônomo Alencar Rugeri.
Por outro lado, a elevada umidade fez explodir as notificações do fungo da ferrugem asiática no Rio Grande do Sul e no Paraná: 109 e 121 registros, respectivamente, conforme o Consórcio Antiferrugem, coordenado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Os dois Estados representam em 2015/16 quase 80% dos casos da doença, que contribui para a queda de produtividade da soja.
Fonte – Valor Econômico – 20/01/2016
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