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Clima reduz safra e preço do feijão sobe

No Paraná, que lidera a produção nacional, estimativa do Deral indica que as intempéries reduziram a colheita em 15%

O excesso de chuvas nos Estados do Sul do país nos últimos meses, provocado pelo fenômeno climático El Niño, prejudicou a primeira safra de feijão da região e, consequentemente, os preços domésticos do grão carioquinha registraram em março altas de quase 30% em relação ao mesmo mês do ano passado. Para agricultores que não perderam a produção, está sendo uma oportunidade para “tirar o pé da lama”, como afirmou um deles ao Valor.

No Paraná, que lidera a produção nacional, estimativa do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria da Agricultura indica que as intempéries reduziram a colheita em 15% – das 335 mil toneladas esperadas inicialmente para 286 mil. “Chuvas desde agosto dificultaram a semeadura e o manejo e postergaram a colheita de verão. Com isso, os feijões ficaram prejudicados, com a qualidade bem comprometida”, afirmou Carlos Alberto Salvador, agrônomo do Deral. Em Guarapuava, no centro-sul paranaense, a quebra chegou a 39%; em Francisco Beltrão, no sudoeste, chegou a 27%.

Segundo ele, o excesso de chuvas derrubou flores e vagens, e erosões ocorridas em muitas lavouras “fizeram com que a germinação acontecesse dentro do próprio pé de feijão, que perdeu seu valor comercial”

No âmbito nacional, a situação é ainda mais preocupante porque a área plantada com a leguminosa na temporada de verão desta safra 2015/16 já havia sido menor, em boa medida graças ao avanço da soja. Conforme a Conab, 1,013 milhão hectares foram destinados ao feijão na primeira safra no país, 3,8% a menos do que no ciclo 2014/15. No Paraná, por exemplo, o decréscimo foi de 6,5%, para 180,1 mil hectares. Em Minas, segundo maior Estado produtor, foi de 7,9%, para 146,6 mil hectares. E no Rio Grande do Sul chegou a 22,5%, para 43,5 mil hectares.

Nesse contexto, os preços do produto começaram a subir já em outubro. Em março, com a “ajuda” dos problemas climáticos, a saca de 60 quilos da variedade “cores” (que inclui o carioquinha) foi negociada, em média, por R$ 182,80 no Paraná, 29,2% mais que no mesmo mês de 2015. Já o feijão preto teve alta de 17,2% em igual comparação.

Na bolsinha de São Paulo, a saca do feijão carioquinha extra nota 9,5 chegou a R$ 242,50 no mês passado, mas com poucas negociações. E, hoje, “não se encontra feijão nota 9, apenas de qualidade nota 7 ou 8 – e é esse que a indústria tem que comprar”, segundo Mahal Terra, analista da consultoria Safras & Mercado. A variedade 7 está cotada a R$ 145, em média. O feijão preto saiu por R$ 182,50, em média, em março na bolsinha. Para se ter ideia, o preço mínimo estabelecido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) para a saca do cores neste ciclo 2015/16 foi de R$ 78; para o feijão preto, o valor ficou em R$ 87.

Alguns produtores até pensaram em segurar as vendas à espera de novas altas, mas os valores atuais já são tão remuneradores que a estratégia não ganhou corpo. “Eu quase fiquei milionária”, brinca Roseli Karling, produtora de Guarupava. Ela plantou 330 hectares em setembro, ao perceber que seus vizinhos iriam todos se dedicar à soja. Deu certo. “Quem tem feijão, virou rei”, diverte-se. Roseli perdeu 20% da produção devido ao excesso de chuva, mas agora, conforme avança a colheita, fecha negócios a preços bem elevados. Recentemente, comercializou mil sacas a R$ 240 cada, ante R$ 90 no mesmo período do ano passado.

De acordo com a produtora, apesar da umidade os grãos que tem colhido estão com boa qualidade – nota 8,5 para tamanho e 9,5 para cor. Segundo o Deral, 82% da colheita de feijão de verão do Paraná foi negociada até março passado, ante 87% do mesmo período de 2014/15.

Os bons preços deverão durar apenas até junho, calcula Terra, da Safras & Mercado, porque a colheita da segunda safra já começou e, ao que tudo indica, o rendimento está satisfatório. Conforme a Conab, a área plantada na segunda safra chega a 1,35 milhão de hectares, 2,2% mais que em 2014/15. Ainda haverá a terceira safra, que é concentrada no Nordeste e considerada residual.

“Não haverá desabastecimento nem impacto forte na inflação, mas os produtores podem e vão continuar tendo meses rentáveis com o grão”, disse Terra. O consumo nacional é estimado pela Conab entre 3,3 milhões e 3,6 milhões de toneladas. E a produção total das três safras brasileiras está projetada em 3,31 milhões.

Fonte: Valor Econômico

André Amorim

Jornalista desde 2002 com passagem por blog, jornal impresso, revistas, e assessoria política e institucional. Desde 2013 acompanhando de perto o agronegócio paranaense, mais recentemente como host habitual do podcast Boletim no Rádio.

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