No ano em que completa meio século, a cooperativa paranaense Cocamar quer levar ao pé da letra a metade positiva de sua filosofia: "Crescer ou morrer". A expectativa da cooperativa, que agrega mais de 11 mil produtores do norte e noroeste do Paraná, é que seu faturamento aumente 13% em 2013, para R$ 2,6 bilhões.
Apesar de ser um percentual menor que o registrado em 2012, quando o aumento foi de 17%, a meta é considerada expressivo, principalmente por conta da tendência de baixa nos preços de produtos agrícolas como soja e milho.
Em meio aos preparativos para as comemorações dos 50 anos, nesta sexta-feira, em Maringá, o presidente da Cocamar, Luiz Lourenço, disse ao Valor que a aposta em 2013 é no investimento em estruturas de recebimento e armazenamento de grãos, que ganharão aporte de mais de R$ 70 milhões.
"A frente para 2013 é estrutura. O Brasil tem hoje um déficit muito grande de armazenagem. A safra encurtou, a colheita é muito mais rápida, as máquinas que estão hoje no mercado são todas de alta performance. Temos que nos adequar a essa nova realidade rapidamente", explica o dirigente.
O aumento no faturamento será alcançado principalmente pelo salto dado no recebimento de grãos. Da safra 2012/13, a Cocamar recebeu 970 mil toneladas de soja – carro-chefe da cooperativa -, ante 680 mil no ciclo anterior. O volume foi inflado desde o arrendamento de 24 unidades da cooperativa Corol, em 2010, o que permitiu à Cocamar entrar na região de Londrina, onde ainda não atuava.
Desde a década de 70, a soja é o principal produto plantado nas fazendas dos cooperados da Cocamar, a grande maioria deles pequenos e médios agricultores, com 80% das propriedades até 50 hectares. Ao ser fundada, em 1963, a cooperativa agregava 46 pequenos produtores de café, que passaram a se dedicar ao algodão e, depois, principalmente à oleaginosa.
"A soja sempre será o produto mais valioso que nós temos. É um alimento que tem 47% de proteína, nenhum outro cereal tem isso", afirma Luiz Lourenço.
De acordo com o presidente, os grãos – milho, trigo e soja – são responsáveis por quase 50% do faturamento da cooperativa, que também lucra com a venda e exportação de insumos e de outros produtos agrícolas, como café e laranja. Grande parte dos volumes entregues pelos cooperados é industrializado e vendido no varejo, que já responde por 27% do faturamento da Cocamar.
"Hoje, industrializamos toda a soja e até compramos mais fora da cooperativa. O trigo também é 100% industrializado em nossos moinhos", conta. Neste ano, a projeção é faturar R$ 700 milhões com as vendas no varejo, acima dos R$ 600 milhões registrados no ano passado. Os produtos são vendidos sob marcas como Purity, Suavit e Talento em toda a região Sul, além dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e do Distrito Federal.
Para sobreviver e crescer em um mercado com empresas cada vez maiores, incluindo as multinacionais, a Cocamar investe em tecnologia e no aumento da produtividade de seus cooperados. A cooperativa tem três fazendas de demonstração de tecnologia, onde presta assistência técnica e faz palestras diárias com especialistas para melhorar técnicas de plantio, fertilização de solo e colheita.
Os resultados da empreitada podem ser medidos em sacas. Os cooperados que participam de um programa específico para aumentar a produtividade da soja conseguem colher 148,8 sacas por alqueire, enquanto a média paranaense é de 131,5.
"A questão da assistência técnica é um debate nacional. A presidente [Dilma Rousseff] vem se esforçando para criar isso nacionalmente. O pequeno produtor não tem quem orienta-lo. Quando tem a cooperativa, isso é resolvido", completa o presidente.
Luiz Lourenço afirma que o acesso ao crédito ainda é um problema para os pequenos agricultores. De acordo com ele, apesar de os recursos serem fartos, a burocracia para a liberação do dinheiro encarece o processo.
"As pessoas têm cartão de crédito, linha de crédito, já o produtor não pode fazer isso. Cada empréstimo tem custos, ele é agricultor há 50 anos e cada vez tem que provar que cumpriu todos os seus compromissos. O dinheiro está lá, mas para o produtor parece uma miragem", compara.
Para o presidente, o marco dos 50 anos da Cocamar só foi alcançado por conta da melhora na tecnologia e nas comunicações, que permite à cooperativa competir com grandes companhias. Ele afirma que muitas empresas aumentam suas margens de lucro no comércio com os pequenos, o que possibilita oferecer preços melhores para os grandes agricultores. Essa desvantagem, diz, é anulada quando se formam cooperativas.
"A cooperativa se transforma na grande fazenda. Representamos 11 mil fornecedores, aí o comprador vem procurar a gente, aí a gente consegue fazer o mesmo negocio da multinacional", conclui.
Valor Econômico
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