Os preços das commodities agrícolas, no caso soja, milho e trigo, têm seus preços balizados pelo dólar. No patamar atual do dólar de R$ 1,8250, o mesmo é desfavorável para os produtos agropecuários e para as exportações brasileiras, apesar do dólar registrar uma elevação entre os dois períodos próxima de 6%. Com isso, não se concebe comparar qualquer commoditie com o equivalente em dólar, mesmo porque os dois caminham em sentido inverso, quando um sobe outro desce e vice-versa.
Os produtores já fazem esta leitura, vêm aprendendo a ter um olhar sistêmico em relação às commodities agrícolas, onde ampliam o campo de visão, observando desde os fatores fundamentais (oferta, demanda, estoques), clima e os fatores macroeconômicos.
É recomendável o uso dos preços relativos, o produtor tem que saber quanto aumentou proporcionalmente o preço do diesel, da mão-de-obra, dos insumos, quantas sacas de soja são necessárias para adquirir uma tonelada de fertilizante, quantas sacas de milho são necessárias para adquirir uma tonelada de formulado, etc.
A recente crise na economia grega e na União Europeia, ou seja, o cenário econômico global vigente, teve seu reflexo sobre as commodities agrícolas, com períodos de grande volatilidade desde fins de 2011 até fevereiro de 2012.
Além disso, não é necessário ter qualquer vinculação com o mercado de commodities agrícolas para operar na Bolsa de Chicago, o que, consequentemente, implica em aumento da volatilidade, porque a qualquer sinal de queda nos preços, a tendência dos fundos de investimentos é de realização de lucros e refúgio no dólar, como forma de fuga do ativo de risco.
Até fevereiro, predominou a interferência de fatores financeiros (crise grega e europeia) mas, com o acerto proposto para a Grécia e o apoio financeiro previsto, o mercado mundial recuperou o bom humor e as commodities passaram a reagir pela ótica dos fatores fundamentais.
No caso da soja, a quebra da safra da América do Sul pelos efeitos do fenômeno La Niña, que trouxe chuvas escassas e irregulares, provocando forte estiagem e consequente, repercutiu nas cotações internacionais da soja.
Em relação ao Brasil, o Usda revisou a produção para baixo, considerando as perdas com a estiagem. Com isso, a produção foi reajustada de 72,0 milhões para 66,00 milhões de toneladas (menos 6 milhões de toneladas). O consumo previsto em 35,50 milhões de toneladas. As exportações foram reajustadas de 36,90 para 35,70 milhões de toneladas. Mesmo assim, o Brasil permanece como primeiro exportador mundial de soja em grão. A participação brasileira no comércio mundial é 40%.
A produção argentina de soja igualmente foi reavaliada por conta da estiagem de 48,0 milhões para 45,00 milhões de toneladas (menos 3 milhões de toneladas), o consumo revisto para 39,80 milhões de toneladas, exportações de 8,60 milhões de toneladas e estoque final de 19,95 milhões de toneladas. A Argentina, terceiro principal produtor, participa com 18,9% da produção mundial.
Apesar dos preços de 2012 serem inferiores àqueles praticados em 2011, ainda assim podem ser considerados remuneradores e estão muito acima da média histórica dos últimos dez anos.
A média do 1º trimestre de 2012 foi de US$ 27,98 por saca, cerca de 8% inferior àquele praticado em igual período de 2011 (US$ 30,49 por saca).
Em março, com a divulgação da expectativa de plantio da safra norte-americana 2012/2013, os preços encontraram sustentação.
No caso da soja, o USDA surpreendeu com uma estimativa de área de 29,91 milhões de hectares, redução de 1%. A área da safra passada foi de 30,3 milhões de hectares. Os números do relatório sobre os estoques trimestrais norte-americanos sugerem oferta ajustada. Com isso, os preços na Bolsa de Chicago lograram atingir o melhor patamar dos últimos seis meses e meio.
Já para o milho, o preço médio do período foi de US$ 15,12 por saca, contra US$ 15,82 por saca no mesmo período de 2011. Mesmo assim, os preços se mantêm firmes na Bolsa de Chicago. Conforme o USDA, a área plantada com milho deverá ser de 38,79 milhões de hectares, a maior área plantada desde 1937, superior às expectativas do mercado. Na safra 2011/12 os norte-americanos plantaram uma área de 37,2 milhões de hectares.
Os dados sobre estoques trimestrais alavancaram os preços para níveis acima de US$ 280 por tonelada FOB para embarques até agosto, porquanto o mercado ficou receoso dos estoques chegaram ao limite do abastecimento interno norte-americano. O governo norte-americano anunciou a aprovação de adição de 15% de etanol à gasolina. Presentemente, cerca de 10% de etanol é adicionado à gasolina.
Vale ressaltar que no mercado brasileiro os preços não apresentaram a mesma reação, isto porque os preços se mantêm baixos, no patamar de R$ 24,00 por saca, no Porto de Paranaguá.
Preços da soja, milho e trigo na bolsa de Chicago – CBOT (US$/saca) |
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Produtos |
Média janeiro/março 2012 |
Média janeiro/março 2011 |
Variação (%) |
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SOJA * |
27,98 |
30,49 |
(8,24) |
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|
MILHO |
15,12 |
15,82 |
(4,43) |
|
|
TRIGO |
14,25 |
17,48 |
(18,48) |
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Fonte:Cbot, www.cbot.com , preços janeiro/março; 1 bushel soja e trigo = 27,216 kg e 1 bushel de milho 25,4 kg, * efeito taxa de câmbio + variáveis sazonais como prêmio e safra.
Mercado Doméstico
No mercado paranaense, os preços da soja no do 1º trimestre de 2012 situaram-se praticamente nos mesmos níveis daqueles praticados em igual período de 2011. A média apurada pela SEAB foi de R$ 44,61 por saca contra R$ 44,85 por saca no mesmo período de 2011. Este preço é considerado remunerador, haja vista o custo de produção de uma saca de soja estar no entorno de R$ 36,75 por saca. Até o momento já foi comercializado 56% e colhido 85%. Os preços ao produtor chegaram a bater R$ 56,00 por saca, na praça de Ponta Grossa e R$ 59,20 no Porto de Paranaguá.
A quebra da safra de verão, por conta da estiagem prolongada entre os meses de novembro/11 e fevereiro/12, somando perdas de 4,8 milhões de toneladas. A soja responde por 71% desse volume. O prejuízo financeiro estimado, em valores atuais, é de R$ 3,42 bilhões.
De acordo com a Seab, apesar da queda na produção, a estimativa da safra de grãos 2011/2012 é de 30,73 milhões de toneladas.
No caso da cultura da soja, foram plantados 4,37 milhões de hectares e a estimativa de produção era de 14,07 milhões de toneladas. O efeito da estiagem provocou a queda para 10,71 milhões de toneladas, uma quebra de 3,36 milhões de toneladas e um prejuízo financeiro de R$ 2,78 bilhões. Com isso, o cenário foi de em plena colheita, preços elevados.
No caso do milho, a média do 1º trimestre de 2012 foi de R$ 22,71 por saca contra R$ 21,95 por saca da safra anterior (2010/2011). A comercialização alcança 41% e a colheita é de 77%, devendo se estender até final do mês de julho.
A estiagem também comprometeu a safra do milho de verão, com isso, a produção esperada é de 6.043 milhões de toneladas e uma perda de 1,55 milhão de toneladas (20%). A produtividade média obtida é de 6.350 kg por hectare.
Quanto ao trigo, o Paraná passou a ocupar o segundo lugar na produção brasileira de trigo, cedendo espaço para o Rio Grande do Sul. A produção paranaense na safra 2011/12 é de 2,501 mil toneladas e participa com 43% da produção nacional. O Estado perdeu 1/3 de área com produção de trigo.
No 1º trimestre de 2012, o preço médio recebido pelo produtor foi de R$ 23,70 por saca, inferior ao praticado em igual período de 2011(R$ 25,46 por saca) Esse preço também é inferior ao custo de produção, estimado em R$ 30,65 por saca. O preço mínimo do trigo pão tipo 2 é de R$ 26,30 por saca.
A cultura do trigo se defronta com diferentes obstáculos, dentre os quais se destacam: o alto custo de produção contrapondo a uma baixa liquidez; as incertezas climáticas; a questão do seguro, que não cobre as perdas por qualidade; logística de armazenagem deficitária e por último, mas não o menos importante, a inexistência de salvaguardas em relação ao produto importado, com uma concorrência desleal de produtos importados da Argentina, Uruguai e Paraguai, com condições e prazos de pagamento diferenciados.
PARANÁ
Preços médios recebidos pelos produtores na soja, milho e trigo – Comparativo 2012e 2011 |
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Produtos |
Média janeiro a |
Média janeiro |
Variação |
Variação (%) |
SOJA |
44,61 |
44,85 |
-0,24 |
-0,54 |
MILHO |
22,71 |
21,95 |
0,76 |
3,46 |
TRIGO |
23,70 |
25,46 |
1,76 |
-6,92 |
DÓLAR |
1,7646 |
1,6670 |
0,0976 |
5,85 |
FONTE: SEAB – média janeiro/março
Por: Gilda Bozza (economista da FAEP)
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