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Duas cidades reféns de uma indústria

Dívidas de mais de R$ 395 milhões do frigorífico Diplomata põem em risco o futuro de municípios vizinhos, que somam 30 mil habitantes

Duas cidades vizinhas, 30 mil habitantes e um problema coletivo. Capanema e Planalto estão atônitas com a crise que envolve o frigorífico Diplomata, no extremo Sudoeste do Paraná, fronteira com a Argentina. Situada em Capanema, a empresa é uma das principais fontes de emprego da região, mas está em recuperação judicial para saldar dívidas que somam R$ 395.872.943,09. Avicultores relutam em entregar sua produção e não receber. E, sem frangos, a indústria tende a reduzir suas atividades, fechando parcela importante dos 1.300 postos de trabalho.

A avicultura é a principal fonte de renda de Orlimpio Henning, produtor rural de Capanema. Ele acumula 15 anos de parceria com o frigorífico Diplomata, para o qual fornece aves. Mas agora está temeroso. O abatedouro da empresa se complicou com a elevação, em até 70%, dos preços do milho e da soja – ingredientes da ração que o avicultor recebe para os frangos. Em um setor em que tudo precisa funcionar como uma orquestra para que a rentabilidade atinja os índices desejados, Henning corre o risco de não receber insumo suficiente, criar frangos mais magros e acabar comprometendo sua receita.
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César Machado/ Gazeta do Povo
César Machado/ Gazeta do Povo / Orlimpio Henning, de Capanema, teme não receber insumo suficiente, produzir frangos mais magros e receber menos Ampliar imagem

Orlimpio Henning, de Capanema, teme não receber insumo suficiente, produzir frangos mais magros e receber menos
Dono do grupo, deputado Alfredo Kaefer nega atrasos

Com dívidas que somam pelo menos R$ 395,87 milhões e uma lista de credores de 15 páginas, conforme o Tribunal de Justiça do Paraná, o frigorífico Diplomata e outras quatro empresas do grupo que pertence ao deputado federal Alfredo Kaefer (PSDB) estão em recuperação judicial. Em entrevista à Gazeta do Povo, ele sustenta que os pagamentos aos avicultores estão sendo colocados em dia.

A recuperação judicial foi expedida pela 1.ª Vara Cível de Cascavel em 24 de agosto e dá 60 dias de prazo para que seja estabelecido um plano de recuperação. O documento também estabelece que o fornecimento de água e energia não pode ser interrompido e que os protestos lavrados contra o grupo não poderão ser executados durante 180 dias. Os 19 bancos credores também não podem reter o dinheiro presente nas contas-correntes da recuperanda.

O deputado Kaefer afirma que a situação está sob controle e nega também atraso na entrega das ração. Sobre os problemas nas empresas, ele alega que, enquanto o plano de recuperação está sendo elaborado, as unidades operam apenas em serviços essenciais.

"Estão sendo tomadas medidas para manter condições mínimas de funcionamento. Duas unidades foram fechadas e as demais estão funcionando com dificuldade, em condições mínimas."

O deputado desfaz qualquer correlação entre os problemas da Diplomata e a oferta de R$ 250 milhões para a compra do frigorífico Independência, realizada em julho do ano passado e recusada sob a alegação de incapacidade de pagamento. "Isso eram outros tempos, outra situação, e faz parte do passado", pontua.

O fechamento da unidade em Capanema foi descartado por Kaefer. "Isso só poderia acontecer se a crise continuar, o que também afetaria outras empresas, mas não acredito pois houve uma pequena recuperação de preços, que estão se estabilizando", diz. O mesmo vale para a venda da indústria. "Não existe nada disso em curso", resume.

19 bancos estão listados como credores da Diplomata na decisão da 1ª Vara Cível de Cascavel que aceitou o pedido de recuperação judicial no dia 24 de agosto. A empresa tem até 60 dias de prazo para apresentar um plano de ação à Justiça.

Com o estouro da crise da avicultura neste ano, a situação da Diplomata ficou insustentável, culminando em um pedido de recuperação judicial. Avicultores como Ivanir Sokolowki contam que os frangos continuam sendo entregues, mas não há pagamento. A atividade virou só despesa para ele. Nos últimos meses, entregou mais de 60 mil frangos em três lotes. Porém, não recebeu um centavo dos R$ 20 mil que lhe são devidos. "Eles [Diplomata] inclusive me ligaram pedindo para alojar aves novamente, mas só vou aceitar quando receber", conta.

Os problemas na entrega de ração são incontornáveis. As aves passam fome nos aviários. "O peso ideal é de 2,5 quilos por cabeça, mas no último lote foi de 1,7 quilo", relata Sokolowki, mostrando relatórios que comprovam essas médias. Animais de menos de 1,5 quilo estão sendo abatidos.

Os trabalhadores do abatedouro temem demissões, o que pode ocorrer caso a planta reduza drasticamente sua operação ou pare de funcionar. "Já tivemos atraso de 21 dias no pagamento. Cesta básica e bônus sobre a produção não estão sendo pagos", contam os trabalhadores, que recebem em média R$ 750 ao mês e preferem não se identificar, para preservar o emprego.

A prefeitura de Capanema também pode perder arrecadação. Ela depende do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) que a Diplomata paga ao estado. O valor que retorna ao município, cerca de R$ 300 mil, representa 40% da receita da prefeitura.

O diretor do Sindicato da Indústria da Alimentação de Capanema, Claudemir Orsolin, conta que 30 trabalhadores pediram demissão no último mês, número três vezes maior que a média. Nas ruas da cidade, um carro de som anuncia que a Diplomata tem vagas em aberto, em um momento em que os desempregados pensam duas vezes antes de trabalhar para a empresa.

Crise pode gerar fusões na avicultura paranaense

Carlos Guimarães Filho

A crise na avicultura no Paraná, justificada por causa do aumento do custo de produção, pode resultar em um novo cenário no setor. Diante do atraso de pagamento, incapacidade de arcar com os altos preços da ração e o risco de demissão em massa de funcionários, alguns frigoríficos que atuam no estado podem ser incorporados por outras companhias.

Ontem, durante a divulgação do levantamento da safra de verão 2012/13, o secretário da Agricultura e Abastecimento do Paraná, Norberto Ortigara, revelou que algumas instituições financeiras estão viabilizando possíveis fusões de frigoríficos no estado. "Os bancos são credores e têm interesse na viabilidade econômica das empresas. Eles [os bancos] estão incentivando fusões e incorporações no setor para não deixar que ninguém quebre", afirmou Ortigara. Os bancos que estiveram presentes na reunião realizada na semana passada foram o Itaú, Bradesco, Banco do Brasil e o Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE). O secretário não revelou quem seriam as empresas interessadas em fusões com outras companhias.

De acordo com informações do Sindicato das Indústrias de Produtos Avícolas do Paraná (Sindiavipar), alguns frigoríficos podem ter elevado a produção além da necessidade do mercado, incluindo altos investimentos, e atravessam dificuldades para pagar as dívidas com as instituições financeiras.

Medida caseira

Diante do apelo do setor, a Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Paraná enviará hoje um pedido de ajuda aos Ministérios da Agricultura e Fazenda, além da Casa Civil. O documento, elaborado pela Seab, Faep e Sindiavipar, pede subsídio do milho para produção de ração, nova linha de crédito e refinanciamento das dívidas. "Os leilões vão viabilizar milho mais barato, já que o Brasil tem milho sobrando. Uma linha de crédito semelhante ao Pronamp (Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural), com juros de 5,5% ao ano, também é importante para as integradoras de frango", explicou Ortigara. "As dívidas também precisam ser reprogramadas", conclui.

Com receio, aviários estão interrompendo produção

Desconfiados de que não vão receber, avicultores da região de Capanema estão paralisando temporariamente a criação de frangos. Eles seguem recomendação da própria Associação dos Avicultores de Capanema e Planalto, conta o presidente da entidade, Dari Possato. Quem não consegue se associar a outro frigorífico, deixa a estrutura de criação simplesmente parada.

A Associação reúne 90 produtores das duas cidades e discutiu a questão em uma assembleia realizada há três semanas. "Fizemos a reunião em 80 associados e decidimos não alojar aves enquanto o pagamento não for feito", diz. Ele sustenta que todos os associados têm ao menos um lote para receber e cerca de 40 aviários da região estão vazios.

Outra opção

Com o intuito de contornar essa situação, o avicultor Neri Philippsen está investindo em melhoria na estrutura, para fornecer aves a alguma outra empresa. Ele tem um lote ainda não pago pela Diplomata, no valor de R$ 6 mil. "Não fosse outras atividades como a lavoura e o gado de leite, estaríamos passando fome", reclama.

Gazeta do Povo Online – Curitiba/PR
César Machado/ Gazeta do Povo

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