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À espera das águas de março

Há torcida para que o céu de brigadeiro dê um tempo para nuvens escuras

Provavelmente nunca antes tantos prestaram tanta atenção na moça do tempo, que interrompe os telejornais repletos de notícias ruins na economia, na política e nas ruas. A moça esquadrinha o mapa do país e repete que o tal bloqueio atmosférico teria de ser derrubado para as chuvas aparecerem.

Há um grande déficit hídrico nas principais regiões agrícolas do país, começou a chover no final desta  primeira quinzena, furando o tal bloqueio, mas a esperança mesmo é que os versos da música  de Tom Jobim estejam certos e as águas de março fechem o verão.

O surpreendente calor desses dois primeiros meses do ano mudou o cenário nas cidades, alterou comportamentos e trouxe sérias preocupações no campo. As ruas ganharam o desfile de jovens de shorts, cobradores e motoristas de taxi ganharam  a permissão para trabalhar de bermudas e até advogados o direito de dispensar paletós e gravatas.
O Jornal Nacional dedicou espaço a agricultores do norte do Paraná suando em bicas no trato de suas plantações; ventiladores e climatizadores sumiram das lojas. Enquanto isso, por falta de planejamento no andamento de hidrelétricas, o governo federal continua a detonar bilhões com a energia de usinas térmicas, movidas a gás, óleo e carvão importados porque os reservatórios hidrelétricos estão baixíssimos. Cidades entraram em rodízio de abastecimento de água – um dia com, três sem.

Esse cenário se completa com os primeiros levantamentos sobre a estiagem no campo.  Pouco mais de 20% da soja já estavam colhidas e armazenadas no começo da segunda quinzena de fevereiro, segundo a Secretaria da Agricultura e Abastecimento (Seab). As expectativas de perdas, em todas as culturas, tinham índices variados, mas nada será como antes do sol arder dias a fio. Assim caminha a humanidade ou pelo menos parte dela – nós, que vivemos ao sul da linha do Equador.

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