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Procura-se mão de obra

Nas últimas estatísticas do IBGE, da população de 198  milhões de habitantes, 27,7 milhões de brasileiros vivem no meio  rural. Desde 1970 o País vem sendo impactado por  um consistente processo de urbanização. As projeções para os próximos anos indicam que os atuais 14% da população do campo serão ainda reduzidos, provocando dificuldades ainda maiores para encontrar mão de  obra no campo, principalmente em culturas que exigem mão de obra intensiva. "Se hoje já está difícil achar um trabalhador para qualquer atividade rural, a tendência é que a situação se agrave", avalia o especialista em agronegócios e professor Eugênio Stefanelo.

Segundo ele, uma combinação de fatores contribuiu para  o "apagão" da mão de obra rural, como a migração para o trabalho  na construção civil cujos salários geralmente são mais atraentes.  Além disso, o programa Bolsa Família, do governo federal, é apontado por Stefanelo como um entrave ao setor. "As pessoas não querem trabalhar de forma regular, para não perder o benefício. Ao invés de o governo incentivar o assistencialismo, deveria investir, por exemplo, em infraestrutura para suportar o volume da produção", critica.

Para enfrentar essa escassez de gente, a tendência é que as propriedades rurais passem a contar fundamentalmente com a mão de obra familiar ou investimentos em tecnologia poupadores de mão de obra. É o que já vem ocorrendo com as lavouras de cana-de-açúcar e café, nas quais as colheitas já se tornaram mecanizadas.  "Essa é uma tendência em todos os setores agrícolas e vamos caminhar para a colheita mecânica. É o caso de culturas como a de
mandioca e a de batata, que estão desenvolvendo uma tecnologia para que as colheitas deixem de ser apenas manual", constata Stefanelo.  

Assistencialismo
  Há uma difícil realidade para muitos produtores rurais, que são unânimes em afirmar: não há gente o suficiente para atender a demanda. É o caso do produtor de mandioca Henrique Marques Donha, de Santa Elisa, no Noroeste do Paraná, que não consegue ampliar a produção por causa da falta de mão de obra. Diante disso, ele abriu uma empresa há nove anos – a Jardim Agrícola – para recrutar trabalhadores para a cultura. "A situação está complicada, parece que ninguém quer trabalhar. Hoje tenho que importar trabalhadores de outros estados porque não consigo funcionários aqui", lamenta.

A cada ano, segundo ele, o cenário se torna pior, o que ameaça a permanência na atividade. Hoje, Henrique cultiva mandioca em 720 hectares e precisa de 10 trabalhadores para colher 20 toneladas por dia em 2,4 hectares plantados.  Mesmo pagando diárias de R$ 100,00 e seguindo a legislação trabalhista, ele enfrenta dificuldades para encontrar trabalhadores. "O programa Bolsa Família é, hoje, certamente um dos maiores fatores que limitam a contratação de funcionários. O pessoal não quer perder o benefício em troca de um emprego regularizado. Além desse problema, o uso de drogas como o crack, por exemplo, se tornou cada vez mais frequente entre os trabalhadores rurais. A cada dia a situação está pior".

Outro que sente o impacto do assistencialismo de alguns programas sociais do governo federal é o citricultor Gilberto Pratinha,  de Paranavaí, que necessita de muita gente para trabalhar no laranjal  de 3.000 hectares. Hoje, ele precisa de um funcionário para cada 10 hectares na propriedade e, durante o pico da safra, entre junho  e janeiro, de 440 trabalhadores. Para atender essa demanda, ele  está importando 30% da mão de obra de estados do Nordeste.  "Atualmente, nós percebemos que não há comprometimento com o trabalho como existia há 30 anos. Com o Bolsa Família, se o  trabalhador for registrado, ele perde o benefício e, para não ficar  de fora, ele prefere não trabalhar como um empregado registrado.  Isso certamente é um entrave na expansão agrícola", analisa,  acrescentando que paga uma média de R$ 1.600,00 por mês a um colhedor de laranja.

Concorrência urbana
O pecuarista Cristiano Leite, de Cornélio Procópio, diz que a falta de mão de obra se tornou um problema geral em todos os setores da agropecuária e aponta como uma das causas a concorrência urbana.  "Hoje, por exemplo, estamos perdendo mão de obra para a construção civil que está oferecendo uma remuneração maior em relação ao campo. Essa escassez deve crescer e vamos continuar disputando com outros setores. Isso, certamente, contribuirá no uso de tecnologias que dispensem mão de obra", avalia.

A mesma impressão tem o produtor Marco Antônio Geraix, também de Cornélio Procópio, que atribui a falta de mão de obra à construção civil. "Nós estamos vivendo um momento crítico, perdendo os trabalhadores para a cidade", diz.

Como a maioria, o produtor de leite Jan Van der Vinne, de Carambeí, reclama da falta de mão de obra para cuidar do rebanho de 125 vacas. "Na nossa região estamos perdendo espaço para a indústria, o trabalho na cidade não exige tanto como ocorre no campo. No caso do leite, por exemplo, são seis dias por semana", observa.  Hoje ele paga uma média de R$ 1.600,00 mil por funcionário, com  casa, luz, água e leite. "O jeito para atender essa falta de mão de obra é investir em tecnologia. Vamos chegar ao modelo da agricultura europeia baseada na mão de obra familiar".

Robotização
De olho no futuro e antecipando as recomendações dos especialistas para driblar o apagão da mão de obra, o produtor Armando Rabbers, de Castro, investiu na tecnologia e passou a ser o primeiro produtor da América do Sul a adotar o mais moderno sistema de extração de leite criado na atualidade: o equipamento de ordenha robotizado chamado VMS ou ordenha voluntária. Segundo ele, a ideia de investir num robô leiteiro surgiu depois que participou da Agroleite em 2010 e de sucessivas visitas técnicas à Suécia e Holanda.

Dois robôs estão na propriedade de 200 hectares e um plantel de 140 cabeças,  cada um possui uma bomba de vácuo, que permite o sistema ser mantido "rodando" todo tempo, mesmo quando um deles estiver em manutenção. O VMS é na verdade um braço hidráulico que executa todo procedimento de ordenha sozinho: identifica a vaca, alimenta, faz a limpeza dos tetos (através de fluxo de água e ar), estimula, tira os primeiros jatos e seca. Depois disso, o robô inicia a ordenha, com as teteiras sendo colocadas após o laser identificar o posicionamento dos tetos. Todas as informações vão direto para o computador e toda a vez que a ordenha é feita, Rabbers recebe as informações via celular. "Pelo telefone eu consigo checar como anda a saúde da vaca e acompanho a quantidade de células
somáticas de cada vaca durante a ordenha, por exemplo", explica.

Cada robô é responsável pela ordenha de 70 animais e o novo sistema começou a ser implantado no início de fevereiro de 2012 e foi finalizado em outubro do mesmo ano. Com um investimento de R$ 19 mil por animal e uma produção diária de 37 litros de leite por vaca, Rabbers já colhe os resultados com aumento de produtividade e, principalmente, com a economia de mão de obra.  "Essa é a tendência para os próximos anos: quem não investir vai ficar de fora do mercado", diz, informando que hoje não depende  mais de cinco funcionários e economiza mensalmente cerca de R$ 8  mil só com salários.

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