Sistema FAEP

Safra recorde, insegurança no campo

Por Antônio M. Buainain e Pedro Loyola

A presidente Dilma declarou que não permitirá a volta da inflação. Neste contexto, o anúncio de uma safra recorde de grãos é comemorado pelo governo, enquanto os agricultores vivem em clima de grande insegurança

A presidente Dilma declarou que não permitirá a volta da inflação. Neste contexto, o anúncio de uma safra recorde de grãos (151,2 milhões de toneladas) é comemorado pelo governo, enquanto os agricultores vivem em clima de grande insegurança, ameaçados por debilidades que podem provocar o colapso num dos segmentos mais importantes da economia brasileira. Sem catastrofismo, é preciso chamar a atenção para ações ao alcance do governo federal, que só precisa transformar declarações de prioridade em políticas efetivas.

Instabilidade e risco. A safra recorde está ameaçada pelo excesso de chuvas. Em áreas importantes de MT e MS, semana passada os produtores contabilizavam perda de aproximadamente 30% da colheita de soja; no Sudeste, a produção de hortigranjeiros – e a de grãos – tinha sido duramente castigada. Milhares de produtores desses Estados terão quebras que podem chegar a 80% da produção esperada, e a maioria nem está segurada contra riscos climáticos. O fato é que o seguro, principal política de proteção ao risco, tem cobertura extremamente limitada e está ameaçado pelo atraso na liberação de recursos do programa de subvenção, que corre sério risco de descrédito após grande esforço político e operacional – do Ministério da AGRICULTURA e das seguradoras privadas – para pô-lo em funcionamento. O círculo vicioso é conhecido: prejuízos arcados pelos produtores, renegociações das dívidas, prejuízo para o Tesouro, elevação do passivo dos agricultores, redução das margens, mais instabilidade e…

Competitividade e câmbio. É inegável que o agronegócio brasileiro é competitivo. Isso não significa, como muitos pensam, que não sofre com a valorização cambial. Ao contrário, como é fortemente exportador e enfrenta rigidez do processo produtivo (não é possível ajustar a produção em plena safra, mudar a tecnologia, reduzir custos e demitir trabalhadores, como na indústria), a rentabilidade está diretamente associada à taxa de câmbio e aos preços internacionais. Em março de 2009 o produtor colheu com dólar a R$ 2,30, e hoje negocia na base de R$ 1,67. Ou seja, uma redução de 27% em dois anos, impossível de compensar com mais produtividade e maior eficiência. O que está salvando a lavoura são os preços internacionais excepcionalmente elevados. Apesar das previsões de manutenção de preços elevados, sabemos que os preços agrícolas flutuam, inclusive sujeitos a movimentos especulativos, e bastaria uma queda de 15% na hora errada para levar parte do agronegócio brasileiro à bancarrota.

Endividamento elevado. O nível de endividamento é alto e já ultrapassa R$ 100 bilhões, não por culpa dos produtores, mas em razão da herança da era de pacotes e da falta de mecanismos adequados de gestão de risco. Renegociações de dívidas como as de 2008, 2005 e, antes, 2001, 2000 e dos anos 90 são como o doping: dão novo fôlego, mas aumentam a fragilidade dos produtores diante dos riscos climáticos e de mercado. Com o alto endividamento do setor, os produtores estão com suas garantias tomadas, o que reduz a capacidade de ampliar os investimentos em tecnologia para aumentar a produtividade.

Financiamento e investimento. Os agricultores são dependentes de crédito oficial, que continua insuficiente, apesar da injeção de recursos, e ineficiente, apesar das reformas. O modelo e legislação de crédito rural é de 1965; o produtor tem custo elevado de operação, as linhas de financiamento nem sempre são adequadas, os bancos não estão preparados para atender a demandas diferentes das culturas já massificadas e abusam das vendas casadas, proibidas pela legislação, mas largamente utilizadas como "reciprocidade" pelos gerentes que obrigam produtores a contratar de tudo: títulos de capitalização, consórcios e até reservar parte do financiamento para aplicações em poupança.

É necessário levar a AGRICULTURA mais a sério, e os agricultores precisam superar a agenda de pedinte que pauta as relações com o governo para negociar compromissos para o futuro e em razão do futuro. Antes da próxima crise.

Antônio M. Buainain – professor do Instituto de Economia da Unicamp
Pedro Loyola – economista da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (FAEP)

Fonte: O Estado de São Paulo – 22/03/2011 

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