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Seca põe 34% do Paraná em situação de emergência

O Paraná tem 34% de seus 399 municípios em situação de emergência por causa da falta de chuva, avaliou ontem o governo do estado. Depois de um encontro com prefeitos da Região Oeste, o governador Beto Richa (PSDB) decretou estado de emergência para 137 municípios, incluindo os 20 que já contavam com notificações e decretos municipais.

Os problemas atingem em cheio a agricultura e se concentram nas regiões Oeste, Sudoeste, Sul, Centro-Oeste, Noroeste, Norte e Norte Pioneiro. Apesar de ainda não haver avaliações precisas, a Secretaria da Agricultura e Abastecimento (Seab) estima que o estado já perdeu 2,55 milhões de toneladas de grãos (11,5% da safra de verão projetada em 22,13 milhões de toneladas), ou R$ 1,52 bilhão. Se computados os efeitos em setores que dependem do agronegócio, a cifra passaria de R$ 2 bilhões.

De acordo com o boletim da Coordenadoria Estadual de Defesa Civil, 1,35 milhão pessoas foram afetadas pela estiagem, ou 13% da população. No Rio Grande do Sul, estado ainda mais prejudicado pela falta de chuva, 282 municípios (56%) decretaram emergência e o quadro atinge 1,6 milhão de pessoas (15% da população).

Para apoiar a região da seca no Paraná, o governo deve destinar R$ 47 milhões, entre verbas estaduais e federais, que contemplam tanto a ajuda ao produtor agrícola como a realização de obras de infraestrutura para melhorar o sistema de fornecimento de água.

O decreto coletivo de situação de emergência promete agilizar o atendimento aos 137 municípios, que não teriam condições de resolver a situação apenas com recursos próprios. Segundo os produtores, as chuvas, que voltaram a cair no último fim de semana, apenas estancaram as perdas (leia abaixo).

Para receber ajuda, no entanto, as prefeituras terão de comprovar danos. "Mesmo com a decretação coletiva, cada município deve apresentar sua própria documentação e um laudo individual sobre os problemas causados pela estiagem", explica o subtenente Luiz Cláudio Trierweiler, que integra a Defesa Civil. Caso não apresente esses documentos, a cidade não deve ter acesso às verbas emergenciais.

Entre as verbas a serem liberadas, R$ 15,5 milhões são destinados aos agricultores da Região Sudoeste do estado. Parte do dinheiro deve ser usada para a compra de sementes e fertilizantes – facilitando a próxima safra – e o restante no Fundo de Aval – programa que substitui avalistas em empréstimos à agricultura familiar.

O governo estadual anunciou ainda, para 2012, R$ 21,5 milhões destinados à instalação de 300 sistemas comunitários de fornecimento de água, que também devem beneficiar comunidades rurais. Para esse projeto, a Sanepar vai investir R$ 10 milhões e o Programa Estadual de Águas e Saneamento Rural (Proesas) entra com R$ 11,5 milhões.

Devem ser implantados ainda 140 abastecedouros comunitários, com a perfuração de poços artesianos, instalação de bombas e reservatórios elevados e a construção de cisternas. A iniciativa deve atender comunidades rurais com problemas históricos de escassez de água e vai atender produtores de frangos, suínos, leite e hortaliças. Para essas obras, serão investidos R$ 10 milhões, com recursos do Ministério de Integração Nacional.

Os municípios atingidos pela seca enfrentam problemas desde novembro de 2011. De acordo com dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), o problema se agravou em dezembro. Em Barracão e Santa Izabel do Oeste, no Sudoeste, duas das primeiras cidades a decretarem situação de emergência, o volume de chuva em dezembro foi de 30,2 milímetros. Em Cascavel, ficou em 33,8 milímetros. Isso representa cerca de 20% do esperado (150 milímetros no mês).

Milho e soja
Chuva chegou tarde ao Oeste

Cassiano Ribeiro, enviado especial

A chuva dos últimos dias renovou os ânimos dos agricultores do Oeste do Paraná para o plantio da segunda safra de milho, mas chegou tarde demais para salvar a produção de milho e soja de verão. A maior parte das lavouras da oleaginosa na região foi semeada com variedades precoces e, por causa disso, não apresenta mais condições de recuperação.

"Está sendo a pior safra de todos os tempos. Em 1978/79, quando tivemos a maior perda até hoje, colhemos 1,2 mil quilos [de soja] por hectare. Neste ano, calculamos média de 645 quilos por hectare", afirma Ivo Dal Maso, de Toledo. O agricultor conta que, na safra passada, o rendimento chegou a 3,5 mil quilos por hectare, cinco vezes mais do que agora.

No Sudoeste paranaense, as plantações de grãos também foram castigadas pela seca. "Em 45 dias, desde dezembro, o quadro da produção no Sudoeste mudou. Estava tudo muito melhor do que no ano passado e todos os outros anos. Mas aí veio a seca. Nossa sorte é que a área precoce não é muito expressiva", diz Eucir Brocco, diretor da Coopertradição, de Pato Branco. Como o plantio nessa região ocorre mais tarde do que no Oeste, os agricultores acreditam que os resultados das lavouras tardias ainda podem compensar as perdas nas áreas precoces.

Chuvas estancam perdas, mas clima preocupa
Da Redação

As chuvas registradas nos últimos dias beneficiaram lavouras do Sudoeste e do Oeste do estado que não recebiam água suficiente há quase dois meses. A expectativa dessas regiões é que o clima continue colaborando e estancando as perdas na produção de grãos nos próximos dias. As avaliações oficiais apontam quebra entre 1,7 milhão e 2,5 milhões de toneladas e devem ser revistas nas próximas semanas.

O volume de chuvas registrado nas lavouras ainda não é ideal, mas traz alívio aos produtores. Na Região Sudoeste, onde a situação era considerada grave, o volume acumulado de chuva foi, em média, de 100 milímetros nos últimos dias, conforme registros oficiais. Pato Branco precisa de umidade não só para o cultivo de verão, mas também para o plantio da safrinha (feijão, milho e soja). Na microrregião de Francisco Beltrão, apesar dos 98 mm de precipitação, os municípios seguem em situação de emergência pelo prejuízo consolidado registrado no campo.

Na Região Oeste, Cascavel assiste a muitos produtores iniciarem o plantio da segunda safra do milho em razão das boas condições de umidade do solo após as chuvas, que chegaram a 150 milímetros. Mesmo assim, algumas lavouras, discriminadas pelo tempo, ainda sofrem com a estiagem. O problema da irregularidade, característica de ano de La Niña, deve prevalecer até o fim da safra.

Nas demais áreas agrícolas do estado, também foram registradas chuvas expressivas, conforme o setor. Porém, o consenso entre técnicos e agricultores é que boa parte das lavouras não terá mais como recuperar seu potencial produtivo.

A previsão para esta semana é de pancadas de chuva para todas as regiões. O sol, no entanto, também aparece. Uma equipe da Gazeta do Povo percorre o Paraná desde ontem para monitorar a fase inicial da colheita e as consequências da seca. O material será publicado nas edições das próximas quinta e sexta-feira.

Fonte: Gazeta do Povo

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