A colheita da supersafra brasileira de soja e milho de verão engrena nos próximos dias diante de preços oscilantes e alertas de clima irregular em estados como Mato Grosso do Sul e Goiás. Num momento em que prevalece a expectativa de safra cheia, o País registra recuo de 10% nos preços da soja – para menos de R$ 60 por saca no Paraná e em Mato Grosso, os principais produtores.
Com produção e mercado estremecidos, a Expedição Safra Gazeta do Povo volta a campo a partir de amanhã para uma sondagem completa da colheita de verão e das tendências que vão determinar a renda do agronegócio em 2013. A sondagem estendeu seus roteiros de 12 para 14 estados e vai discutir também a logística de escoamento da produção.
Em relação à produtividade, as projeções ainda não refletem as variações regionais. Às vésperas da colheita de mais de 82 milhões de toneladas de soja e de 35 milhões de toneladas de milho, o mercado precifica oferta ampliada. Entram nas contas os relatórios oficiais que elevam a produção dos Estados Unidos e atenuam as consequências do excesso de chuvas na Argentina.
A queda do preço da oleaginosa – que passou da casa de R$ 66 para a de R$ 58 em dez dias no Paraná – ocorreu precocemente e foi repentina, avalia o economista Marcelo Garrido, do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento (Seab). Os analistas contavam com recuo menos expressivo e somente após a chegada da colheita sul-americana no mercado. Mesmo assim, as causas da oscilação são conhecidas: "Reflexo do relatório do Usda [Departamento de Agricultura dos Estados Unidos] e da colheita que está chegando", aponta Garrido.
Os relatos de que a falta de chuva prejudicou lavouras do Centro-Oeste brasileiro são considerados pontuais. Técnicos e jornalistas da Expedição Safra vão conferir danos, potencial de recuperação e representatividade dessas regiões na safra nacional. No Paraná e em Mato Grosso, marcas abaixo de 50 sacas de soja por hectare vêm sendo registradas nas áreas que mais sofreram falta de água do plantio ao desenvolvimento das plantas. A pior parte das lavouras abre a colheita de verão.
Enquanto o campo pede tempo para confirmar resultados, o mercado depende das negociações das próximas semanas. Os cancelamentos de contratos de importação dos Estados Unidos por parte da China, que somam 1 milhão de toneladas de soja e pressionam os preços para baixo, não representam, necessariamente, recuo na demanda.
O mercado norte-americano sustenta exportações de 36,6 milhões de toneladas em 2012/13 (set/ago), conforme o Usda. Isso significa que os cancelamentos chineses vêm sendo compensados por novos contratos e que a fome do gigante asiático não diminuiu. Do total exportado pelos EUA, 31 milhões de toneladas já foram embarcados.
Com estoques tão baixos, a tendência é que o mercado chinês se volte para a América do Sul. A estimativa é que a China importe entre 61 e 63 milhões de toneladas de soja em 2013, volume que equivale a 75% de tudo o que o Brasil espera colher neste ano.
Estoques baixos prometem limitar às baixas e reanimar cotações
Os Estados Unidos assumiram na última semana que possuem menos milho e soja do que se pensava. No caso do cereal, carro-chefe da agricultura norte-americana, as exportações de 2012/13 (set/ago) foram reduzidas em 17,4%, conforme relatório do Departamento de Agricultura (Usda), que corrigiu os números de dezembro.
Nessa nova bateria de estimativas, o Usda divulgou relatório trimestral de estoques físicos, que contabilizou apenas 53,5 mil toneladas de soja disponíveis (descontando estoque das propriedades e da indústria). Houve redução de 17% na comparação com dezembro de 2011.
Esses números seriam indício de que existe limite para o recuo nas cotações, avaliaram os especialistas. As oscilações e baixas são consideradas respostas de curto prazo. Para o mercado internacional, Brasil e Argentina estão sendo beneficiados pelo clima e devem colher safra recorde, "aliviando assim a pressão da constante demanda mundial por estas commodities", considera Pedro Dejneka, da PHDerivativos.
As correções do Usda nos números sobre a safra norte-americana causam forte pressão, apesar de o mercado depender neste momento da colheita sul-americana. "O Usda adicionou praticamente um Paraguay no balanço norte-americano de soja desde o relatório de setembro, ou 9 milhões de toneladas", reforça Djneka. Em sua avaliação, se a safra sul-americana de soja ficar acima de 145 milhões de toneladas, os preços seguirão os patamares atuais; se ficar abaixo de 140 milhões de toneladas, o bushel vai se reaproximar dos picos históricos atingidos no ano passado, voltando à casa de US$ 16.
Para Aedson Pereira, analista da Informa Economics, a grande incógnita é a Argentina. O Usda sustenta previsão de 54 milhões de toneladas para o país sul-americano num momento de indefinição. As vendas antecipadas são um ponto chave, considera. Enquanto o Brasil já teria vendido 40 milhões das 82 milhões de toneladas de soja que espera colher, a Argentina negociou apenas 10 milhões. Ou seja, tem perto de 40 milhões para vender (80%).
"O índice de comercialização preocupa. Os produtores foram muito cautelosos por causa da preocupação com o atraso no plantio. Isso tende a concentrar a oferta num período curto e gera pressão sobre os preços", explica.
Jornal de Maringá – Maringá/PR
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