No Brasil, as práticas agrícolas convivem entre os sistemas arcaicos e a tecnologia de ponta. No país podem ser encontrados desde o ancestral semeio grão a grão até as mais avançadas plantadeiras e colhedeiras. Os equipamentos agrícolas estão sempre se modernizando. Todo ano, é lançada uma novidade.
O pesquisador da Embrapa Decio Gazzoni observa que a modernização dos equipamentos também foi fundamental para que a agricultura brasileira alcançasse o estágio de hoje, de plantar em tempo recorde e colher em tempo recorde. Foram necessários maquinário certo, semente adequada e muita estratégia, lembra o produtor Darci Ferrarin.
O produtor chama de janela o curtíssimo período que tem para plantar o mais rápido possível para que a cultura se beneficie das chuvas. Há 40 anos, a semente de soja que havia era plantada em setembro para ser colhida em março, o que demorava seis meses. Agora, com a soja precoce de cem dias, o produtor planta no meio de setembro para colher no início de janeiro, quando se abre a janela para plantar algodão que será bem regado pelas chuvas de verão. A soja mediana, de 115 a 120 dias, plantada em setembro, será colhida no fim de janeiro e início de fevereiro, tempo da janela para o plantio do milho. A soja de ciclo longo agora é de 140 dias. O grão, plantado em setembro, é colhido no fim de fevereiro, abrindo uma janela para o plantio de feijão.
Antigamente, quem plantava soja era produtor apenas de soja. Quem mexia com boi era apenas criador de boi. Na experiência mais recente que começa a se alastrar a cultura de grãos ocupa o mesmo espaço dos animais ou vice-versa na chamada integração lavoura-pecuária.
O produtor Darci Ferrarin está entre os agricultores que há muito tempo aposentaram a velha ideia de que o solo precisa descansar. Ele completa o ciclo com as pastagens que se sobrepõem às mesmas áreas de lavoura. O agricultor tira os grãos e o algodão. Depois, engorda mais quatro mil cabeças de gado. Além dos ganhos de produção propriamente, esse modelo de agricultura traz também ganhos para a natureza.
Os danos ambientais nesse modelo são muito menores que os de 20 ou 30 anos atrás. A toxicidade dos produtos diminuiu. Com o terreno sempre coberto de palha, a absorção é maior e há menor arrasto de material para os cursos d’água.
A fazenda tem cinco mil hectares de mata nativa nas margens do rio Teles Pires. O agricultor Darci Ferrarin conta que na propriedade tem 28 nascentes. Os pulverizadores que aplicam veneno sequer chegam perto da água. Ele abriu canais que, por gravidade, transportam a água até carros-pipa, que se deslocam até a lavoura para abastecer os aplicadores.
Essa verdadeira revolução agrícola que o Brasil vive reduziu também o impacto no bolso do consumidor. A comida que sai do campo atualmente sai muito mais barato do que nos anos de 1970.
A produção de leite e carne muito se beneficiou do avanço da agricultura. O grão engorda o frango, o porco e o boi. Um terço do que Brasil planta por ano se transforma diretamente em proteína animal. As boas práticas agrícolas do modelo brasileiro acabaram acertando também um alvo que não trazia preocupação 40 anos atrás: o aquecimento global.
As enormes emissões de gases de efeito estufa pelas atividades humanas aumentam a temperatura no planeta, o que pode levar a catastróficas alterações no clima.
O pesquisador Carlos Cerri é professor da Esalq, a Escola Superior de Agricultura Luis de Queiroz, trabalhou durante vários anos no IPCC, Painel Intergovernametal de Mudanças Climáticas da ONU, fazendo parte da equipe que ganhou o prêmio Nobel da Paz. Ele recebeu um importante prêmio da Embrapa por suas pesquisas sobre emissão de carbono. "Por não revolver o solo, o plantio direto faz com que haja menor emissão de gases do efeito estufa para a atmosfera. Por outro lado, parte da palha que fica na superfície do solo, com a decomposição pelos organismos do solo, é incorporada no solo fazendo o que chamamos de sequestro de carbono pelo solo", diz.
Há 15 anos, as equipes do doutor Cerri pesquisam lavouras dos quatro cantos do Brasil. Eles coletam amostras de solo e, segmentando o terreno com caixas, fazem a captação de gases que pairam na superfície das camadas de palha. Com seringas, são aspirados os gases que a terra exala. O material é analisado nos laboratórios da Universidade de São Paulo, em Piracicaba. O pesquisador Carlos Cena tem um inventário das emissões e da fixação de gases nas lavouras do país.
Considerando que o Brasil já alcançou cerca de 35 milhões de hectares com plantio direto, conclui-se que a prática sequestra 17 milhões de toneladas de carbono por ano, o que compensa as emissões de gases de efeito estufa de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e da maioria das capitais mais populosas do Brasil.
O sistema de plantio direto também deu contribuição significativa para o setor de energia. O plantio direto, aliado a outras práticas conservacionistas, evitou erosões e, portanto, assoreamento, na bacia do Rio Paraná e aumentou a previsão de vida útil da represa de Itaipu de 100 para aproximadamente 200 anos.
Fonte:
Do Globo Natureza, com informações do Globo Rural
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