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Celeiro do mundo

Antes considerada o patinho feio da economia brasileira, a agropecuária hoje não só exibe números de negócios e de produtividade invejados internacionalmente, mas também protege o país das crises externas. O campo garante ao fluxo comercial do país cerca de US$ 100 bilhões anuais – montante que impediu o saldo geral de fechar no vermelho em 2011, que registrou o pior superavit em 10 anos: US$ 19,43 bilhões.

São as carnes e, sobretudo, a soja, exportadas pelo Centro-Oeste que compensam os expressivos gastos dos brasileiros lá fora e ainda garantem montantes históricos do colchão de dólares das reservas cambiais. Se, no período de implantação do Plano Real, a agricultura servia de âncora verde para a estabilidade da moeda, como alertava o então presidente da CNA, Ernesto Salvo, hoje é o escudo para a incerteza global, a despeito da infraestrutura perigosamente precária.

A posição alcançada pelo agronegócio, em especial à atual safra de grãos (a maior da história), com 185 milhões de toneladas, desafia governo e sociedade a encarar o setor com ainda mais preocupação estratégica. A ideia de fartura trazida pelas colheitadeiras e o orgulho da vitoriosa tecnologia aplicada ao meio rural não podem deixar perder de vista o fato de que há muito a fazer.

De um lado, técnicos garantem que há espaço para dobrar a produção sem precisar derrubar uma árvore, apenas aproveitando cerca de 100 milhões de hectares de pastos degradados. De outro, produtores clamam ao governo rapidez na solução de velhos problemas, como os gargalos logísticos e a falta de política para evitar fortes oscilações de preços domésticos.

Na série de reportagens "Celeiro do Mundo", publicada pelo Correio desde o último domingo, ficou claro que o empreendedorismo rural colhe frutos e lucros em meio a adversidades. A mais nova delas está no aumento do preço do frete. Diferentemente do principal concorrente do país na produção de alimentos, os Estados Unidos, os grãos aqui são escoados por velhos caminhões até navios ancorados nos portos do Paraná e de São Paulo. Poderiam chegar de barco ou trem, com custos 60% menores, além de mais segurança, menos desperdício e mais pontualidade.

Além disso, não se pode esconder o preocupante fato de que, apesar de todo o avanço na lavoura e na criação de bovinos e aves, as exportações carecem de agregação de valor para melhorar a rentabilidade. Já passou da hora de acelerar a substituição da venda no mercado externo de bois vivos e de soja em grão por carnes industrializadas, farelo e óleo. Afastando a pecha de destruidoras da natureza, as atividades eficientes e rentáveis da porteira para dentro das propriedades rurais podem render mais e perder menos nas estradas, na burocracia e nas decisões governamentais erradas.

Independentemente das barreiras internas ao desenvolvimento da agropecuária e do persistente protecionismo comercial mundo afora, o Brasil continuará sendo olhado nos próximos anos com admiração por pesquisadores e investidores. A capacidade, em ampliação graças à abertura de novas regiões, com destaque para Mato Grosso, está dando conta da demanda explosiva dos asiáticos, China à frente – tendência apontada como certa até 2020.
 
Fonte: Correio Braziliense – 04/03/2013
 

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