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Leite vai encarecer cesta básica por pelo menos mais dois meses

O leite assumiu a dianteira entre os produtos que mais elevam o custo da alimentação urbana no país. A alta de 5,81% registrada de julho para agosto pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), no entanto, foi encoberta pela queda de 38,39% no tomate. As geadas dos últimos dias tendem a manter elevados os preços dos laticínios, pela redução na disponibilidade de pastagens, conforme os técnicos que monitoram o setor produtivo.

"O leite está sendo disputado no mercado mundial. E a produção brasileira não está crescendo como se esperava. Está devagar: tivemos seca, geada, tudo que era ruim aconteceu. Estamos num tempo de demanda forte e produção apertada", avalia a agrônoma Maria Sílvia Digiovani, que monitora a pecuária leiteira no estado pela Federação da Agricultura (Faep).
Cenário

No supermercado, leite abaixo de R$ 2 só em saquinho. As promoções de caixinhas entre R$ 2 e R$ 2,50 por litro ofertam produto de estados como Rio Grande do Sul, que opera com custos menores. Os melhores leites do Paraná competem com esses produtos a valores inclusive acima de R$ 3 por litro. Os produtores estão recebendo até R$ 1,20, quando atendem a exigências de qualidade das indústrias.

Segundo as séries históricas de cotações mais usadas pelo setor, esse valor é inédito. As médias estão variando entre R$ 1 e R$ 1,10 por litro nas principais bacias leiteiras do país. O Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), ligado à Universidade de São Paulo (USP), informa que, corrigindo os valores antigos, nota-se que o produtor só recebeu preço equivalente ao atual em agosto e em setembro de 2007, ou seja, seis anos atrás. Na época, as médias eram de R$ 0,77 por litro no Paraná e R$ 0,80 em âmbito nacional. A série histórica de preços do leite do Cepea foi iniciada em 2000.

Seca antiga

No âmbito internacional, as altas nas cotações do leite estão relacionadas à captação reduzida pela seca na Oceania um ano atrás. A oferta ainda não se recuperou, relatam os técnicos, e também depende de mais equilíbrio climático.
Gato escaldado

O produtor de leite não aproveita o preço elevado para ampliar a produção substancialmente porque está mais consciente das oscilações do mercado, afirma o veterinário Fábio Mezzadri, da Seab. O planejamento de longo prazo evita superoferta.

Com os preços internacionais de hoje, o produto brasileiro é competitivo mesmo com custo elevado, mas está escasso, lamenta a técnica. O preço interno está em US$ 5 mil a tonelada de leite em pó. "O normal é de US$ 3,5 mil a US$ 4 mil. A exportação neste momento seria muito vantajosa: juntou preço alto com dólar valorizado", aponta Sílvia. Mas, por enquanto, a meta de elevar as exportações continuará sendo adiada, acrescenta.

Recuperação

As pastagens vão precisar de 40 dias para se recuperarem das queimaduras das geadas, o que vai permitir uma normalização na pro­dução somente em novembro, estima o veteriná­rio Fábio Mezzadri, que acom­panha o setor produtivo pela Secretaria da Agricultura e do Abastecimento (Seab).

O quadro afeta principalmente Norte e Noroeste, responsáveis por 13% da produção estadual. A tendência de queda na produção também abrange Sudoeste e Oeste do estado, que produzem metade do leite do Paraná e ainda não substituíram totalmente a alimentação verde por silagem nas leiterias. Em regiões como os Campos Gerais, de semiconfinamento, a produção tende a se manter.

"Primeiro as chuvas de junho, que duraram quase um mês inteiro, atrasaram o desenvolvimento das pastagens. Depois foram as geadas e a neve do fim de julho. Muitos campos não tinham nem se recuperado e foram queimados pelas geadas de agosto", relata Mezzadri.

Gazeta do Povo

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