Sistema FAEP

Plantio direto contribui para aumento da produção brasileira de grãos

Em 40 anos, produção aumentou cinco vezes em relação à área plantada.
Hoje, Brasil passou de 35 milhões de hectares com plantio direto.

O Brasil padece de muitos problemas, mas o setor da agropecuária tem feito a lição de casa. O estado de Mato Grosso está no auge da safra da soja. Em uma das propriedades, os tratores seguem logo atrás das colhedeiras plantando em uma operação quase que simultânea. Na poeira da colheita, faz-se o plantio de uma nova safra. Essa maneira de cultivo vem servindo de exemplo pelo mundo. Enquanto que em outros lugares o normal é ter uma safra por ano, o Brasil está na segunda e chegando à terceira safra anual.

O plantio direto é o divisor de águas da agricultura brasileira na opinião de Decio Gazzoni, pesquisador da Embrapa, ex-assessor da Presidência da República em planejamento estratégico de segurança alimentar.

No sistema tradicional de cultivo, todo ano o agricultor tem que fazer uma nova aração. Assim, o solo fica exposto por um longo período, até que a cultura a ser plantada se estabeleça na terra. Depois do arado, o costume é passar a grade e a lâmina niveladora. Assim, o terreno fica todo remexido, escarificado, frágil e nenhuma proteção. No plantio direto, o preparo do solo acontece uma única vez. Depois, o terreno fica sempre coberto.
Sorriso MT (Foto: Arte/G1)Sorriso MT (Foto: Arte/G1)

O pesquisador Darci Ferrarin é um entusiasta do plantio direto. Gaúcho que migrou para o norte do Mato Grosso, ele explora quatro mil hectares de grãos no município de Sorriso. A fazenda tem o nome de Santa Maria da Amazônia.

Cada palmo cultivado na propriedade tem uma grossa camada de palha, uma cobertura que se formou com a sucessão de lavouras. No momento, a colheita é a da soja. A máquina engole os pés inteiros das plantas, separa os grãos e tritura o resto. As folhas e as ramas viram palha que é pulverizada de volta para o chão. Imediatamente, sobre os restos da soja, as plantadeiras depositam as sementes de milho, iniciando outro ciclo de produção.

"Quando começamos o plantio, nós usávamos na faixa de 600 quilos de fertilizante por hectare. Com o decorrer do tempo e com a formação de tanta palhada e matéria orgânica, reduzimos em 50% o consumo de fertilizante químico. Além da economia, nós estamos produzindo muito mais do que naquela época", avalia Ferrarin.

O produtor Herbert Bartz, do município de Rolândia, no norte do Paraná, pioneiro na experiência de plantar em clima tropical, lembra que por volta 1970 a erosão era tanta que ameaçava inviabilizar a agricultura brasileira. Com as chuvas, as camadas férteis eram arrastadas, assoreando os rios. O agricultor foi estudar o assunto com a Missão Agrícola Alemã e descobriu que na Inglaterra e nos Estados Unidos já havia uma tecnologia de preparo mínimo do solo que passou a ser chamada no Brasil de plantio direto.

Os primeiros resultados da técnica foram ruins, mas ele insistiu e importou equipamentos até que viu que o novo sistema gastava muito menos diesel em relação ao o convencional. "Em vez de gastar dez mil litros de diesel, nós gastávamos de 3 mil a 3,5 mil litros. Então, era uma fantástica redução de combustível", calculou Bartz.

A iniciativa atraiu a atenção do IAPAR, Instituto Agronômico do Paraná; da Embrapa e da colônia holandesa, que colocou a força da Cooperativa Batavo para implementar a experiência.

Muitas pessoas estranham quando descobrem que a soja não é brasileira. O grão é de origem chinesa, de clima frio. Mas o Brasil já tem mais de 70 variedades de cultivares adaptados a todas as regiões do país.

O produtor Herbert Bartz recorda que para evitar a armadilha da monocultura, a pesquisa propôs para o plantio direto o sistema de rotação de safras. Em uma vez é plantada a soja e na outra, o milho. Depois, repete a soja. Depois, o trigo. E assim por diante. A estratégia de rotação de culturas permite que combinações que não eram imaginadas há 30 ou 40 anos. No campo de algodão plantado sobre a palhada de capim. A área era de pastagem com rebanho de 600 cabeças.

O pesquisador explica de que maneira se dá o intercâmbio de culturas. Os nódulos no pé da planta são cheios de uma bactéria chamada de rizóbio, que tem uma relação de troca-troca com a planta. A planta cede para a bactéria os nutrientes que obtém com a fotossíntese. A bactéria retribui com um adubo fundamental que é caro: pega o nitrogênio do ar e oferece para a planta, o que reduz consideravelmente o custo com fertilizantes.

A primeira área de plantio direto feita pelo produtor Herbert Bartz tinha apenas 180 hectares. Hoje, estima-se que o Brasil já tenha passado dos 35 milhões de hectares com plantio direto. O número representa 70% da área plantada no país.

A comparação que sempre se faz é do hectare com um campo de futebol. Na verdade, um campo de futebol como o Maracanã é um pouco menor. Tem 8,25 metros quadrados. Mas, se for considerada a área atrás do gol e onde ficam os reservas, darão os 10 mil metros quadrados que é a medida do hectare.

No começo dos anos 70, um campo ocupado por uma lavoura de milho, por exemplo, dava uma média de 1,9 mil quilos. Hoje, nesse mesmo campo de milho, a produção é de seis mil quilos, em média. A soja dava mil quilos em média por hectare. Hoje, passa dos 3,3 mil quilos. O que quer dizer que a produção por hectare mais do que triplicou.

O detalhe mais importante é que antes o campo era cultivado uma única vez no ano. Agora, depois da lavoura de soja, no mesmo período, a terra é cultivada uma segunda vez com milho ou trigo ou feijão. De onde se tirava mil quilos de grãos, hoje é possível tirar mais de 10 mil quilos por ano.

Com isso, a safra nacional deu um salto. Em 1972, foram 30 milhões de toneladas. Em 2011, chegou 160 milhões de toneladas. No histórico da evolução do Brasil como grande potencia agropecuária, o volume de grãos cresce e o de hectares permanece estável. O Brasil produz cada vez mais praticamente na mesma área.

Um levantamento do pesquisador Décio Gazzoni mostra que em 1972 para uma área plantada de 28 milhões de hectares, a safra foi de 30 milhões de toneladas. Hoje, a área plantada é de 50 milhões de hectares, mas a produção bate nos 160 milhões de toneladas. Houve aumento de 80% na área e crescimento de mais de 400% na safra, ou seja, foram cinco vezes mais em 40 anos.

Acompanhe o Globo Rural também pelo facebook.

DETI

O Departamento de Tecnologia da Informação (Deti) do Sistema FAEP/SENAR-PR, formado por profissionais da área, é responsável pela gestão tecnológica do portal da entidade, desde o design, primando pela experiência do usuário, até suas funcionalidades para navegabilidade.

Comentar

Boletim no Rádio

Boletim no Rádio