Sistema FAEP/SENAR-PR

Setor rural lamenta a morte do folclórico Serafim Meneghel, de Bandeirantes

Ex-presidente da Usiban, importante líder local e dirigente de futebol, Meneghel era uma referência na região

O setor agropecuário paranaense se despediu, nesta semana, de uma de suas mais importantes lideranças no Norte Pioneiro: o produtor rural e empresário Serafim Meneghel, que por mais de três décadas esteve à frente da Usina de Açúcar e Álcool Bandeirantes (Usiban). O líder faleceu no último domingo (22), aos 88 anos de idade, de causas naturais. Personagem folclórico na região, Meneghel também participou da criação do Sindicato Rural de Bandeirantes e foi presidente do time de futebol União Bandeirantes, fundado pelo pai em 1964. Visionário, empreendedor e de bom coração, o usineiro foi um dos responsáveis pelo desenvolvimento da agricultura na região.

“Perdemos um corajoso pioneiro paranaense, que dedicou sua vida a desbravar novas possibilidades de levar o progresso com as atividades agropecuárias. Com seu trabalho conseguiu ampliar fronteiras agropecuárias e contribuir de forma decisiva para o crescimento do agronegócio. Além disso, sempre foi um defensor assíduo do sistema sindical rural, dando suporte e participando de lutas nos âmbitos estadual e federal”, declarou o presidente do Sistema FAEP/SENAR-PR, Ágide Meneguette. “Lamento profundamente a perda e deixo aqui minha solidariedade para toda a família de Serafim”, completou.

Presidente do Sindicato Rural de Bandeirantes, Renato Domingues disse que a morte de Serafim teve um impacto inestimável, como se todo o município tivesse ficado “órfão”. Isso porque, generoso, o usineiro tinha o costume de ajudar as pessoas que o procuravam e mantinha uma relação afetuosa com todos moradores. Conhecia dos bóias-frias aos empresários, tratando a todos indistintamente.

“Ele ajudava muito as pessoas, desde ajudas com despesas hospitalares, até a ajudar com casa, carro… Era de uma generosidade sem igual”, disse Dominigues. “A pessoa entrava na sala dele, fazia o pedido. Ele fazia um jogo de cena, falava que não aguentava mais ter que bancar as pessoas. No fim, batia na mesa que chegava a tremer a cadeira… e ajudava quem estava pedindo”, contou o presidente do sindicato.

O próprio Domingues conheceu Serafim há 23 anos, em uma condição parecida. Um incêndio havia consumido a cana com a qual ele trataria das vacas, em seu sítio, em Cambará. Sem ver alternativa, Domingues pegou sua caminhonete Pampa e foi bater à porta de Serafim, na vizinha Bandeirantes. Pediu ao usineiro um pouco de anapiê para plantar e tratar dos animais. Ambos só se reencontraram três anos depois, em uma reunião social em um clube de Bandeirantes, após Domingues ter se mudado para o município.

“Ele veio a minha mesa, cumprimentou a todos. Quando chegou em mim, perguntou: ‘E o anapiê? Deu certo? Cresceu?’. Mais de três anos depois, ele ainda se lembrava da história. Era uma pessoa boa, que não se esquecia de ninguém”, disse Domingues. “Ele dava carona para os bóias-frias na estrada. E falava: ‘Você é filho de fulano e trabalha em tal lugar’. Ele conhecia todo mundo, desde os mais humildes”, acrescentou.

Serafim deixa três filhos, oito netos e 11 bisnetos, além da companheira dona Carlota, com quem permaneceu casado por 65 anos. Segundo a família, a morte ocorreu em decorrência de problemas cardíacos. “Para nós, os filhos, os maiores ensinamentos que ele deixou foi como ser um bom homem, bom pai e bom amigo, com correção dos atos. Ele nos ensinou que o trabalho é a melhor forma de dignificar uma pessoa”, disse o filho Luiz Meneghel Neto.

Referência

O agropecuarista Sandro Teixeira Menossi; o presidente do sindicato, Renato Domingues; e o empresário Elias Leite Negreiros, com o amigo Serafim Meneghel

Serafim chegou em Bandeirantes em 1940, aos oito anos de idade. O pai dele, Luiz Meneghel, migrou com a família para se dedicar ao plantio de cana-de-açúcar na região. Logo, a Usiban se tornou referência econômica para o município. O grupo catapultou o desenvolvimento na região e garantiu a sobrevivência de incontáveis famílias. Ao longo dos anos, Serafim se tornou presidente da usina, posto em que permaneceu até outubro de 2003.

Preocupado com os funcionários, Serafim tinha o estilo “paizão” e incentivava que todos se especializassem. A partir da ação do usineiro e do sindicato rural local, muitos trabalhadores se formaram em cursos do SENAR-PR. Também chegou a pagar do bolso a graduação de funcionários.

“Muitos dos engenheiros agrônomos da região se formaram com meu pai pagando os estudos”, disse Meneghel Neto. “Como ele mesmo dizia, ele não tinha o ‘comercial’ [escolaridade equivalente ao segundo grau, hoje]. Mas ele tinha uma visão empreendedora que impressionava. Isso fez com que os negócios da família se desenvolvesse e ajudasse muito a agropecuária na região”, contou o presidente do Sindicato Rural de Bandeirantes.

Serafim também fez fama como presidente do União Bandeirantes. Por cinco vezes, time foi vice-campeão Paranaense (1966, 1969, 1971, 1989 e 1992) e ficou para a história como um dos dirigentes mais folclóricos do Paraná. Em uma das decisões, o Bandeirantes só precisava de um empate contra o Londrina Esporte Clube, em Londrina. Serafim não pôde acompanhar o jogo e o seu time acabou perdeu por 1 x 0, ficando sem o título.

“Ele dizia que se ele estivesse no estádio naquele dia, o União Bandeirantes não tinha perdido. Ele entrava em campo, arranjava uma confusão, mas não deixava o time perder”, contou Domingues.

Além disso, Serafim coleciona outras passagens com cara de lenda. Uma delas, narra que o dirigente invadiu o campo, depois que o juiz marcou um pênalti contra o Bandeirantes. Inconformado, deu um tiro na bola, impedindo que o time adversário fizesse a cobrança. Em outra história, o União tinha entrado em campo sob vaias da torcida do Pato Branco. Assim que viram o famoso dirigente, no entanto, os apoiadores do time adversário se levantaram e aplaudiram Serafim.

“Essa história do tiro da bola ele desconversava, dizia que era folclore. Mas eu conheço duas ou três pessoas que estavam no estádio e dizem que viram”, afirma Domingues.

Sempre usando chapéu de palha e com barba longa e branca, Serafim era descrito como um homem de hábitos simples. Gostava de ficar na região que ajudou a desenvolver, encontrar amigos e tomar um trago de cachaça, sem luxos. Atendendo ao que Meneguel sempre pediu, a família optou por não fazer velório. A missa de sétimo dia será realizada às 15 horas do próximo sábado (28). Em razão da pandemia do novo coronavírus, os amigos poderão acompanhar a celebração de modo remoto, por meio do Facebook da Rádio Yara FM. “Ele queria que as pessoas se lembrassem do Serafim vivo”, contou Meneghel Neto. “Era uma pessoa firme, que sabia dizer não, mas que não deixava de ajudar ninguém. Era uma pessoa forte, que deixa um legado imenso na cidade”, disse Domingues.

Felippe Aníbal

Jornalista profissional desde 2005, atuando com maior ênfase em reportagem para as mais diversas mídias. Desde 2018, integra a equipe de comunicação do Sistema FAEP/SENAR-PR, onde contribui com a produção do Boletim Informativo, peças de rádio, vídeo e o produtos para redes sociais, entre outros.

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