Em seis anos, o produtor de soja Leandro Gazola já gastou mais de R$ 6 milhões com seis máquinas para o plantio e colheita do grão, mas há apenas dois anos ele tirou a mão de obra de cima dos tratores e substituiu-a por pilotos automáticos, guiados por um sistema de GPS. O custo com a tecnologia de controle remoto foi alto, mas foi a forma que o sojicultor encontrou para lidar com a falta de mão de obra especializada para lidar com os equipamentos existentes. A mudança acabou lhe garantindo um bom resultado, com "melhor utilização da área plantada", assegura.
O presidente da Associação Brasileira de Agronegócio (Abag), Luiz Carlos Corrêa Carvalho, afirma que a mecanização de culturas maduras no Brasil, como a soja, "por meio do GPS e com uso de insumos modernos, é fundamental para os ganhos de produtividade que o País apresenta". As culturas de grãos são onde o País mais se destaca em desenvolvimento tecnológico seja na parte de implementos e máquinas, como em técnicas para a adequação do solo e até em biotecnologia para a produção de sementes transgênicas e produtos derivados da biomassa.
De acordo com a gerente-geral interina da Embrapa Produtos e Mercados, Soraya Carvalho Barrios de Araújo, os avanços tecnológicos no Brasil têm procurado atender às principais demandas do produtor, que é aumentar a produtividade e reduzir o impacto das doenças.
Atualmente, o desenvolvimento de novas espécies de cultivares adaptadas ao sistema tropical brasileiro é o braço de pesquisa mais forte da Embrapa, que tem em processo mais de 50 programas de melhoramento, principalmente com commodities, como soja, trigo, milho e sorgo, e várias espécies de fruteiras e hortaliças.
No caso dos grãos, o presidente da Abag destaca que, além dos produtores, a indústria também tem interesse no desenvolvimento tecnológico da produção, principalmente na criação de tecnologias para agregar valor ao produto, como no caso do uso energético das commodities. O milho, por exemplo, já é utilizado como biomassa para a produção de etanol nos Estados Unidos, pesquisa que começa a ser desenvolvida no Brasil somente agora. "A biotecnologia voltada para a biomassa começou relativamente há pouco tempo, mas tem um potencial enorme para transformar grãos em produtos com valor agregado", observa Luiz Carlos Corrêa Carvalho. "Na área de cosméticos, por exemplo, tem muita coisa sendo pesquisada."
Culturas perenes
O uso energético da biomassa de culturas perenes e semiperenes, como café, cana de açúcar, florestas, e borracha, também promete ser um grande potencial de exploração nos próximos anos. Esse grupo de culturas não tem o mesmo nível em termos de produção e importância econômica para o País, mas, segundo Carvalho, "é um bloco no qual o Brasil tem uma capacidade competitiva única no mundo. Ninguém compete conosco nessas áreas".
No caso da cana de açúcar, a indústria já está buscando utilizar o produto para a produção de produtos cosméticos, plásticos e até de farneseno, uma substância que pode substituir o diesel e que já tem no Brasil uma planta em Piracicaba, em São Paulo (SP), da empresa norte-americana de biotecnologia Amyris e da petrolífera francesa Total. Atualmente a área plantada com cana de açúcar cobre entre 9 a 10 milhões de hectares no País. Embora seja uma área menor do que as culturas de milho e soja, já é a terceira cultura agrícola brasileira com maior importância econômica.
Dentre as culturas perenes, o presidente da Abag também cita desenvolvimentos nas culturas de eucalipto adaptado ao clima tropical brasileiro com vistas a aumentar a produção de celulose e de café, que, dentre as lavouras de pequenas propriedades, é uma das mais rentáveis e produtivas. Porém, Carvalho ainda vê necessidade de desenvolver técnicas para aumentar a produção de borracha e reduzir impactos das doenças do cacau, por exemplo.
Pastagens
O avanço da fronteira agrícola também depende do desenvolvimento de técnicas de manejo de pasto na pecuária. Apesar de não ser adotada em todo o País, o sistema possibilita praticamente dobrar a quantidade de cabeças por hectare. "A média era de 0,8 cabeça por hectare. Em São Paulo, já temos 1,5 cabeça por hectare", cita Carvalho. O presidente da Abag acredita que, pela questão tecnológica, a redução pastagem no Brasil vai ser "um fator de grande melhora da expansão da oferta de grãos e de outros produtos", o que pode ampliar a capacidade de oferta de grãos do Brasil.
Cobertura verde
Os agricultores de regiões brasileiras que sofrem com grandes variações climáticas ao longo de um ano constantemente muito com a erosão e o empobrecimento do solo, além dos malefícios diretos à lavoura. No caso dos produtores do sul do País, ainda há a preocupação com o granizo, que pode inviabilizar culturas inteiras e prejudicar o solo para próximas safras.
Para preservar o terreno das intempéries de inverno, o vinicultor gaúcho Adriano Callegari adotou, com apoio da Cooperativa de Vinhos Nova Aliança, um manejo de solo conhecido como cobertura verde, que utiliza gramíneas, leguminosas e outras plantas rasteiras para evitar a erosão.
Após a colheita da uva, ele planta sementes de centeio e aveia embaixo dos parreirais para fixar os nutrientes no solo. Callegari deixa a cobertura crescer ao longo do ano até se criar uma palha seca, e após a brotação da parreira, que ocorre em meados de setembro, ele corta a cobertura. O agrônomo responsável da cooperativa, Rodrigo Formolo, explica que esse corte é importante para que a técnica não acabe competindo em água e nutrientes com a videira.
Dependendo da cultivar utilizada, a cobertura traz outros benefícios, como é o caso da ervilhaca, que também faz fixação de nitrogênio no solo e dispensa adubação química e orgânica. Conforme a palhada cortada vai secando, ela se transforma em massa orgânica. "Quando bem manejada, a palhada dispensa a utilização de herbicidas em todo o ciclo da videira", acrescenta Formolo.
DCI – São Paulo/SP
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