Os baixos estoques mundiais de milho, consequência da quebra da safra americana em função da seca que ocorreu no verão de 2012, trouxeram uma elevada preocupação aos compradores internacionais em termos de abastecimento do cereal nos próximos anos. O quadro abaixo ilustra este cenário:
Resumo da situação do estoque mundial de milho MilhoProdução (Milhões Ton.)839,7Consumo (Milhões Ton.)853,8Estoque (Milhões Ton.)118,0Estoque / Consumo (%) 13,8Estoque (dias de consumo) 50,4Fonte: USDA Nov 2012; elaboração Sementes Biomatrix/Santa Helena
As reduções das exportações dos Estados Unidos e dos estoques mundiais de milho, diante da crescente demanda por alimentação da população mundial, provocaram a alta dos preços internacionais do grão, com tendência de manutenção em patamares elevados por alguns anos, já que recompor os estoques deste cereal em curto espaço de tempo é improvável. Este fato está beneficiando outros países produtores e exportadores que possuem potencial para substituir as exportações americanas.
Porém nem todos podem atender a este mercado, tendo em vista que alguns deles, tais como China (que contém metade do atual estoque mundial de milho) e Argentina, importantes produtores mundiais, possuem restrições de exportação em função da política local para garantir o abastecimento interno. Assim, maiores oportunidades de ganhos reais acontecerão no mercado mundial para os produtores brasileiros, como podemos ver no quadro abaixo de projeção de produção e consumo de milho na safra 2012/13:
Projeção de Produção e Consumo de Milho no Mundo (Milhões de Ton) – Safra 2012/2013 ProduçãoConsumoExcedenteEUA272,4254,418,0China200,0201,0-1,0Brasil70,055,015,0U.E. 2754,663,0-8,4Demais242,6280,3-37,7Total839,6853,7-14,1Fonte: Informativo DEAGRO, novembro 2012; elaboração Sementes Biomatrix/Santa Helena
Outro fundamento importante para a manutenção do preço do cereal em patamares altos é que cresce cada vez mais a utilização do milho para a produção de etanol em países exportadores do grão, tais como Estados Unidos e Argentina. Diante da restrição à exportação do cereal nestes players, novas usinas destiladoras estão aproveitando a oportunidade para utilizar o milho para esta finalidade. Isso mostra a tendência de grandes produtores mundiais de agregarem valor a seus produtos agrícolas antes da exportação, o que é negativo para nações dependentes da importação de produtos agrícolas para alimentação.
Para os países com produção insuficiente para suas necessidades e dependentes da produção de outras nações, estes têm duas opções: comprar milho dos países emergentes (Brasil é um deles) ou investir em tecnologia para aumentar a produção interna. Isso pode criar também um aumento na demanda por insumos agrícolas brasileiros de valor tecnológico agregado e consequentemente um aumento de preço também desses recursos, assim como acontece com o milho grão.
Contudo, na Bolsa de Chicago a tendência é de que os preços do milho se estabilizem em torno de US$ 7,50 por bushel (em torno de US$ 295 ou R$ 610 por tonelada), cerca de 20% mais elevados do que o último patamar de preços que vigorou entre o final de 2011 e a primeira metade de 2012. Já no Brasil, o preço mundial elevado pressiona o preço interno que tem tendência de se manter na faixa entre R$ 25,00 e R$ 35,00 nas principais regiões consumidoras, continuando bastante elevados e remuneradores aos produtores.
Logística
Aliado ao produtor rural, observou-se com muita intensidade no ano de 2012 iniciativas públicas e privadas em relação à busca de soluções para o problema logístico brasileiro que impacta na capacidade de escoamento de nossos canais de exportação e isso já vem refletindo em mudanças positivas.
Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), somente no acumulado de janeiro a outubro de 2012 o Brasil exportou 13,08 milhões de toneladas de milho. Este volume é 38% maior frente ao embarcado em todo o ano de 2011. Para se ter uma ideia, somente em outubro foram exportadas 3,66 milhões de toneladas de milho grão, sendo o maior volume mensal embarcado na história do país (até então, o recorde de exportação mensal de milho era de 1,93 milhão de toneladas em setembro de 2010). Ocorreram exportações até pelo porto de Ilhéus, na Bahia, o que não era esperado e demonstrou as possibilidades que existem para aproveitamento da capacidade já instalada. E, ainda, se prevê que o Brasil ultrapassará a Argentina e se tornará o segundo maior exportador mundial de milho em breve.
Um exemplo de ação para solucionar o problema de escoamento é o novo terminal de exportação de grãos que está sendo construído em São Luís, no Maranhão, que elevará a capacidade do porto de Itaqui para 15 milhões de toneladas por ano em 2020, contra as atuais 2,5 milhões. O objetivo das autoridades é de que Itaqui seja, nos próximos anos, um dos portos brasileiros com maior capacidade instalada para armazenagem e exportação de soja, milho e farelo, criando uma alternativa logística para produtores do Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
Segunda safra cada vez maior
Diante da melhoria logística, problema que afeta produtores do Centro Oeste e principal região produtora de milho segunda safra, a tendência é de aumento de área e produção na segunda safra brasileira, confirmando um número maior de produção da segunda safra em relação à primeira em 2013, fato que aconteceu pela primeira vez em 2012 com uma diferença favorável de 5 milhões de toneladas aos produtores da antiga "safrinha", que teve uma produção recorde de 38,7 milhões de toneladas, segundo dados da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento).
Somente no Mato Grosso, de uma costumeira participação de até 30% da superfície que inicialmente é ocupada pela soja na primeira safra, a cobertura deverá totalizar cerca de 37% dos 7,89 milhões de hectares destinados à oleaginosa (ou seja, pouco mais de 2,91 milhões de hectares) nos primeiros meses de 2013. Os dados foram apresentados em novembro pelo Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea). Tais produtores estão se beneficiando também do aumento de produtividade por área, que passou de uma média de 3.641 kg/há em 2011 para 5.095 kg/há em 2012, um aumento de quase uma tonelada e meia por hectare, conquistado por melhor utilização das tecnologias disponíveis e por fatores climáticos favoráveis.
Safra verão com boa rentabilidade
Para os produtores da safra verão, os preços de 2012 estimularão uma boa produção de milho no ano agrícola 2012/13 e quem apostou no plantio de milho com certeza terá uma rentabilidade muito boa com o cereal. Segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), a estimativa é que em 2012 o Valor Bruto de Produção (VBP) de milho somente em Minas Gerais, por exemplo, seja de R$ 3,3 bilhões, aumento de 11,8% em relação a 2011, obtido por aumento de produção e de preços.
O Ministério já faz uma previsão de aumento do VPB em todo o território brasileiro em 2013 e o milho está na relação dos produtos agrícolas com maior evolução prevista: entre 8% e 19%, com a previsão de receita entre R$ 36,2 bilhões (IBGE) e R$ 39,8 bilhões (Conab). A produtividade média do milho primeira safra está estimada em 4.904 kg/ha, cerca de 9,5% maior que a safra anterior.
Este acréscimo está relacionado à expectativa de recuperação da produtividade normal nos estados do Sul e do Nordeste, seriamente castigada pelas adversidades climáticas na última temporada. A produção brasileira de milho primeira safra, considerando a área cultivada e a produtividade obtida, deverá alcançar entre 34,1 e 35,4 milhões de toneladas, com variação positiva entre 0,6 a 4,5% em relação à safra passada, quando foram colhidas 33,8 milhões de toneladas.
A conclusão de tudo isso é que quem apostar na produção de milho nas próximas safras vai se dar muito bem. E é sempre importante o produtor rural estar atento na escolha correta da semente híbrida que será plantada, levando em consideração a adaptação que ela terá em seu ambiente e a sua capacidade produtiva de acordo com seu nível de investimento tecnológico.
*Anderson Ricardo Rodrigues é Coordenador de Marketing da Helix Sementes Ltda., composta pelas marcas Biomatrix e Santa Helena. Agrolink com informações de assessoria
Notícias do Campo
Comentar