Sistema FAEP/SENAR-PR

Valorizada, mandioca atinge melhor rentabilidade que a soja

Preço da raiz chega ao maior valor da sua história em um cenário de redução de área e de produtividade

No final de 2021, o preço de comercialização da mandioca no Paraná chegou ao maior patamar da sua história. De acordo com a série iniciada em 2002 pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), em dezembro do ano passado o valor médio da raiz chegou a R$ 694,67 a tonelada. Em janeiro deste ano, o preço médio nominal a prazo recuou um pouco, fechando em R$ 684,94 a tonelada. Mesmo assim, o montante é 57,3% maior que o registrado no mesmo período de 2021. Neste cenário, mesmo com a soja estando altamente valorizada no mercado, a mandioca seria mais rentável para o produtor.

Essa valorização é fruto de um conjunto de fatores que inclui redução de área, queda na produtividade e aumento nas exportações. Nos últimos anos, a área dedicada à mandioca vem
caindo gradualmente no Paraná, em função da opção de alguns agricultores por grãos, como milho e soja, bastante valorizados no mercado internacional. Ainda há escassez de mão de obra, que limita a produção da raiz. No ciclo 2019/20, a mandioca ocupou 149 mil hectares.

No ciclo seguinte caiu para 133 mil hectares e, no atual (2021/22), outra redução, fechando em 131 mil hectares. Soma-se a isso as questões climáticas, com pouca chuva e altas temperaturas nas principais regiões produtoras do Estado. Mesmo sendo uma cultura mais resistente à estiagem, a mandioca sofre com o estresse hídrico, manifestando isso tanto no volume produzido quanto na quantidade de amido nas raízes, quesito central para a qualidade da produção voltada à indústria.

Diante desta conjuntura, o Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento do Paraná (Seab) observa a produtividade das lavouras caindo nos últimos anos: 23.320 kg/hectare (ha) no ciclo 2019/20; 22.976 kg/ha em 2020/21 e 21.531 kg/ha em 2021/22. Com menor volume de mandioca disponível no mercado, a lei da oferta e da demanda se encarregou de elevar os preços.

Produtores animados

“O pessoal está contente, não vê a hora de poder arrancar [a raiz] para segurar esse preço”, afirma presidente do Sindicato Rural de Cerro Azul, Aramis Blatner, que há cerca de dois anos trocou o cultivo de ponkan para apostar na mandioca e não se arrepende. Na sua região, predomina a mandioca “de mesa” voltada para a alimentação direta do consumidor. “Tem diversas famílias
que beneficiam [a mandioca], encaminham para rede de supermercados. Está sendo uma boa alternativa. Quem está plantando está se saindo muito bem. Única questão é que não pode expandir mais porque não tem mão de obra”, observa o dirigente sindical.

De fato, a mão de obra, além de um limitador da atividade, é o principal componente do custo de produção da atividade no Estado. “A mandioca é mais sensível ao mercado interno. Quando falta de mão de obra, isso pode comprometer o desenvolvimento da atividade”, aponta Bruno Vizioli, do Departamento Técnico e Econômico (DTE) do Sistema FAEP/SENAR-PR. “Na soja, insumos como fertilizantes, agrotóxicos e sementes somam 47,51% do custo de produção, enquanto na mandioca esses mesmos itens somam 12,47%. O item que mais pesa na produção da mandioca é a mão de obra, com mais de 40%”, afirma.

Indústria

Além da mandioca “de mesa”, existe a raiz plantada com vocação para transformação industrial. O Paraná abriga o maior parque industrial do país, respondendo por 70% de toda fécula produzida em solo brasileiro. Em 2020, o Valor Bruto de Produção (VBP) Agropecuária da mandioca atingiu R$ 1,6 bilhão (1,25% do VBP estadual). Naquele ano, a mandioca de mesa respondeu por R$ 420 milhões, enquanto a mandioca voltada à indústria R$ 1,18 bilhão.

“Nesse momento, a [comercialização da] mandioca voltada à indústria está um pouco lenta, num ritmo diferente da mandioca de mesa. Mas é uma questão de ajuste, pois existe falta de produto”, observa o diretor da empresa Podium Alimentos e presidente do Sindicato Rural de Paranavaí, Ivo Pierin Júnior. Segundo ele, apesar dos preços estarem muito interessantes para os produtores, em função do baixo teor de amido, muitas vezes a colheita não compensa. “Nesse momento, o produtor está em uma incógnita, pois não sabe se haverá recuperação do amido [na raiz]. Por outro lado [se continuar na terra] pode cair ainda mais o teor de amido”, explica.

Segundo Pierin, outro fator que colabora para a valorização da mandioca no Paraná é o apetite do mercado externo. “Observamos uma demanda como nunca da parte internacional. O Paraguai, que era um pais exportador, passou a importar. Outros países importantes na exportação, como Tailândia e Vietnã, também não conseguiram suprir a demanda internacional”, aponta o dirigente.

Além da produção de alimentos (panificação e embutidos), também existem amidos diferenciados com alto valor agregado utilizados na indústria. “O Paraná tem um parque fabril importantíssimo e não podemos colocar isso em risco. Nós, como setor, temos que administrar essa área que vai ser plantada. O próximo plantio é a partir de maio e estaria disponível no mesmo mês de 2023. Temos que administrar a mandioca plantada em 2020 e 2021, que estará disponível no segundo semestre”, avalia Pierin.

DETI

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