Uma praga está tirando o sono dos produtores que cultivam eucalipto no Paraná. Com pouco mais de um milímetro de comprimento, a vespinha conhecida como vespa-da-galha, está atacando plantações em várias regiões do Estado. No oeste paranaense, praticamente toda a área cultivada de eucalipto sofreu o ataque da praga. Os produtores estão preocupados porque ainda não se sabe exatamente como combatê-la, já que não há nenhum produto que capaz de eliminá-la.
Há 40 dias o produtor Deonir Martelli, de Medianeira, levou um susto ao descobrir que as vespinhas atacaram os seus 150 hectares de pés de eucalipto com dois anos e meio. "Eu não sabia e ninguém da região conhecia essa praga, tanto que cheguei a pensar que era uma doença. Apareceram nódulos nas folhas, que ficaram enrugadas para cima e como o inseto é muito pequeno fica difícil enxergá-lo no meio da plantação", conta. "A gente nem calculou o tamanho do prejuízo, mas acredito que perdi a minha poupança verde", lamenta.
No mesmo município, os cinco hectares de eucalipto do produtor Antônio Vendrame também sofreram o ataque dos insetos. Segundo ele, a maioria das árvores com 18 meses já está contaminada e a sua maior dor de cabeça é não saber o procedimento correto para combatê-la. "O que a gente vai fazer? Ninguém sabe como acabar com essa praga", questiona. Pelas suas contas, vai perder o investimento com o plantio e a compra das mudas.
A vespa-da-galha
Oriunda da Austrália, a praga foi descoberta pela primeira vez em Israel no início de 2000. A ocorrência da vespa de galha no Brasil, mais especificamente no nordeste da Bahia, é o primeiro registro feito no continente americano há três anos. O potencial de ataque da vespinha é muito grande. Ela põe os ovos dentro da planta que, com o passar do tempo, começam a formar o que se chama da galha, uma espécie de tumor que deforma as folhas e ramos, prejudica a circulação da seiva e leva a queda de folhas e secamento de ponteiras. Toda a parte apical da planta pode secar, impedindo o crescimento e reduzindo significativamente a produtividade.
O que o produtor deve fazer?
Representantes do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Emater-PR, Embrapa Florestas, Associação Paranaense das Empresas de Base Florestal (Apre), Escola de Florestas da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (Cidasc), Secretaria da Agricultura , Pecuária e Abastecimento do Estado do Rio Grande do Sul (Seapa-RS) e da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar) participaram no último dia 12 de março de uma reunião na Embrapa Florestas, em Colombo, para discutir estratégias e medidas para combater a praga. O encontro foi coordenado pela Adapar e o engenheiro florestal José Hess, do DTE representou a FAEP.
O pesquisador entomologista da Embrapa Florestas, Edson Tadeu Iede, diz que o produtor deve procurar escritórios da Agência de Defesa Agropecuária no Paraná (Adapar) e buscar informações sobre espécies de eucalipto com maior resistência ao ataque da vespa. Segundo ele, os ataques ocorrem com maior frequência na variedade Eucalyptus camaldulensis e as espécies benthamii e eudine podem ser menos vulneráveis à praga na região Sul. "Não existe nenhuma comprovação científica, mas aparentemente essas espécies são mais resistentes", explica.
Outra recomendação do pesquisador é queimar o pé de eucalipto contaminado e destruir as mudas sintomáticas: "Assim o produtor vai erradicar e evitar a infestação da praga em outras áreas".
O coordenador florestal da Emater, Amauri Ferreira Pinto, orienta o produtor para ficar de olho na hora de comprar a muda da árvore e comprar somente em viveiros regularizados no Registro Nacional de Produtores de Sementes e Mudas. Além disso, ir ao local e verificar se há a presença da vespa-da-galha nas mudas. "Tem que tomar alguns cuidados em relação às florestas que foram implantadas e ficar de olho no sintoma e nos informar assim que possível. Porque o controle se torna inviável depois que as árvores já estão adultas".
Medidas
A obrigatoriedade do uso de um sistema de monitoramento nos viveiros para detectar a praga, com o uso da chamada "armadilha adesiva amarela", é uma das estratégias apresentadas durante a reunião.
Outra medida que pode ser adotada para novos plantios é a seleção de materiais genéticos resistentes. Segundo Iede, "ainda não há nenhuma comprovação científica que isso vai reduzir a infestação. No entanto, alguns testes demonstraram que, quando mudas de diferentes procedências são colocadas lado a lado, pode ser verificada a preferência do inseto. Isso pode ser uma evidência de que aquele material pode ser tolerante ou resistente à praga. Mas, ainda não há nenhum dado para que se possa afirmar que esse material é resistente ou tolerante". Uma estratégia de pesquisa, então, seria a seleção de materiais tolerantes e/ou resistentes à vespa-da-galha.
Já na linha do controle biológico, serão importados e estudados parasitóides de origem australiana, que já foram introduzidos em Israel, além da prospecção e avaliação de parasitóides nativos. A avaliação de inseticidas não está descartada, mas espera-se que outras medidas de controle, dentro de um programa de manejo integrado da praga, como ações de manejo florestal e o uso, em especial, do controle biológico, tragam resultados mais efetivos e sem impactos ao meio ambiente.
Um projeto de pesquisa com estes itens já está em articulação entre UNESP de Botucatu, IPEF, UFV e Embrapa.
Fonte: Embrapa Florestas
Comentar