Ela ganhou fama na última safra, após dizimar lavouras de algodão e soja na Bahia. Com dificuldade no manejo e focos espalhados por outras regiões do país, a praga mobilizou técnicos e instituições, que estabeleceram protocolos visando garantir o controle do inseto no curto e longo prazo. Apesar das intervenções, a lagarta Helicoverpa armigera não foi eliminada e volta a aparecer em áreas recém-semeadas no Sul de São Paulo e no Norte do Paraná. O trecho foi percorrido pela Expedição Safra Gazeta do Povo na última semana, em um trajeto 1,7 mil quilômetros.
Como os ataques são recentes, a lagarta se tornou o assunto do momento nas cooperativas e fazendas. Conforme a Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Paraná (Seab), 59% da área dedicada a oleaginosa já está semeada, índice que equivale a 2,8 milhões de hectares. “O complexo Helicoverpa está atacando muito cedo e ainda não se sabe qual será o impacto sobre o custo e a produtividade”, indica Irineu Baptista, gerente técnico da Cooperativa Integrada, de Londrina (Norte). Ele salienta que o foco no momento é evitar alarde sobre o assunto entre os produtores, para que eles não adotem medidas equivocadas na hora de fazer o controle.
A incerteza quanto ao impacto da lagarta está levando o setor a reunir informações sobre o tema. O pesquisador da Embrapa Soja, Adeney de Freitas Bueno, diz que perdeu a conta de quantas entrevistas e palestras já ministrou para falar sobre o assunto. “O produtor vê a lagarta e já fica assustado, mas é possível fazer o controle”, aponta. A instituição criou o Alerta Helicoverpa, página na Internet que reúne informações sobre o assunto.
“O que preocupa é a polifagia, ou seja, o fato dela se adaptar a vários hospedeiros diferentes”, indica Bueno. A Coamo, de Campo Mourão (Centro), registra casos de lagartas de pequeno e grande porte em áreas recém-plantadas, confirmando a migração entre diferentes culturas. “Treinamos a equipe para localizar a presença de ovos nas plantas e reforçamos a importância da tecnologia de aplicação na hora de fazer o controle”, detalha Marcelo Sumiya, gerente de assistência técnica da cooperativa.
Em Itaberá (SP) o inseto está aparecendo em lavouras de trigo, soja, milho e feijão, “mas ainda não há uma alta pressão de ataque”, aponta Fábio Siebert, técnico da Cooperativa Castrolanda. Quem já iniciou o plantio demonstra preocupação com os ataques. “Aqui na região somos os primeiros a plantar e também os primeiros a sofrer”, relata Alex da Silva Oliveira, que administra uma área de 280 hectares de soja no município e já começa a pensar em utilizar os pulverizadores para evitar uma infestação.
Em Rolândia (PR) o agricultor Matias Knoor não quis arriscar e já fez a primeira aplicação de inseticida. “A dose também está um pouco maior para garantir que não haverá problema”, diz. A decisão foi tomada depois que ele encontrou focos da lagarta em parte da área de 500 hectares dedicada à soja. Em 10% da área ele também pretende avaliar os resultados da semente Intacta RR2 PRO, que promete eliminar até 95% da população total da praga.
Plantas daninhas resistentes favorecem ataques
A migração da Helicoverpa entre diferentes lavouras também tem relação com o aumento da presença de ervas daninhas resistentes, indicam os técnicos. Na área da Cocamar, em Maringá, o agronômo Rafael Furlanetto argumenta que o aparecimento da buva (Conyza bonariensis) se intensificou devido à falta de rotação entre o milho e a soja no verão. “Há produtores que estão passando a grade no solo porque os herbicidas não estão controlando mais”, relata.
Adeney de Freitas Bueno, pesquisador da Embrapa Soja, confirma a correlação entre os problemas. “A presença da buva dificulta a dessecação antecipada, que seria uma alternativa no combate a Helicoverpa.”
Defesa custa até R$30 por hectare
Em Mato Grosso, estado que é o maior produtor nacional de soja, a lagarta ampliou os ataques nesta safra. Conforme o relato dos técnicos, focos do inseto eram encontrados em lavouras pontuais no último ciclo, mas a situação mudou.
Alguns produtores estimam que terão que gastar o dobro do valor previsto com aplicações de inseticidas. “Quem fazia quatro aplicações agora vai ter que fazer sete. Os produtos utilizados para combater especificamente a Helicoverpa são mais caros”, detalha Marcos Castro, gerente de insumos da Ciagril, principal trading que atua na região Médio-Norte do Mato Grosso. Ele estima que o custo de cada aplicação varia entre R$20 e R$30 por hectare.
Fonte: Gazeta do Povo -05/11/2013
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