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Feijão tem preço desgovernado

De acordo com a Secretaria da Agricultura do Paraná (Seab), o preço da saca de 60 quilos caiu de R$ 158,10 em janeiro do ano passado para R$ 76,18 bem abaixo do preço mínimo de garantia do governo federal (R$ 95/sc)

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O lucro obtido pelos produtores paranaenses de feijão na temporada passada está sendo utilizado para cobrir o prejuízo da safra atual. Diante da grande oferta do grão, reflexo da produção estadual 31% maior em relação à anterior, os preços pagos aos agricultores despencaram. A maior queda é registrada no feijão de cor, o carioquinha, variedade mais cultivada no País e também no Paraná, o maior produtor nacional. De acordo com a Secretaria da Agricultura do Paraná (Seab), o preço da saca de 60 quilos caiu de R$ 158,10 em janeiro do ano passado para R$ 76,18 bem abaixo do preço mínimo de garantia do governo federal (R$ 95/sc). A cotação do feijão preto também já se aproxima do preço mínimo (R$ 105/sc). A média do primeiro mês do ano, segundo levantamento da Seab, foi R$ 122 /sc.

“Os problemas de clima encolheram a safra passada e renderam bons preços. Isso resultou em aumento do plantio nesta temporada. Agora, a produção maior gera pressão no mercado”, explica o economista da Seab Marcelo Garrido. “Associada a isso tem a queda no consumo nesta época do ano por conta das férias escolares e do calor”, acrescenta.

A safra paranaense das águas, a principal do ano, ocupou 239 mil hectares no Estado, crescimento de 12% sobre o ano anterior. Com a melhora de 15% na produtividade, que alcançou média de 1,8 mil quilos por hectare, a produção bateu na casa das 431 mil toneladas. Mais de 75% das lavouras já foram colhidas.

“E agora em fevereiro ainda tem a entrada da segunda safra de feijão. É pressão de tudo que é lado”, adverte Pedro Loyola, economista da Federação da Agricultura no Estado do Paraná (Faep).

Prejuízo

Por conta da superoferta, o produtor encontra um cenário completamente oposto ao de 12 meses atrás. Em maio de 2013, a saca do carioca chegou a ser comercializada a R$ 199. Neste ano, mesmo com os preços lá em baixo, os produtores se veem obrigados a vender ao menos parte da produção. “Vendi metade [mil sacas] do que já colhi por R$ 65 a saca porque precisava do dinheiro para cumprir alguns compromissos. Se continuar deste jeito, vai comer tudo que a cultura rendeu no ano passado”, lamenta o agricultor Eduardo Medeiros Gomes, que dedicou 200 hectares ao grão na sua propriedade em Castro, nos Campos Gerais.

O agricultor Manoel Henrique ‘Nonô’ Pereira, da mesma região, também contabiliza os prejuízos. Os R$ 75 por saca que conseguiu na comercialização de 30% da sua produção “num total de 250 mil toneladas” não cobrem os custos de produção. Sem contar os eventuais gastos com a armazenagem. “Daqui a 30 dias preciso liberar espaço [nos armazéns da fazenda] para a entrada da soja. Ou vendo [o feijão] por qualquer preço ou mando para a cooperativa. Mas daí preciso pagar pela armazenagem.”

Os produtores do Estado acreditam que a única forma de minimizar os problemas é a realização de operações de Aquisição do Governo Federal (AGF). Porém, não existe definição quanto à viabilidade da operação. “Os entraves burocráticos são muitos. Quando vier a AGF, o produto já perdeu qualidade”, ressalta Nôno.

Queda no campo não se reflete nas gôndolas

A queda no valor pago aos produtores de feijão não têm se refletido na mesma proporção aos consumidores. Apesar dos mais de 50% de redução no preço do produto no campo, o preço do carioquinha caiu no máximo 20,31% nos supermercados em algumas marcas não passou de 9,3%. De acordo com pesquisa do Disque-Economia, serviço da Prefeitura de Curitiba, a média de preço do pacote de um quilo na semana passada era R$ 3,10, diante dos R$ 3,89 pagos em janeiro do ano passado.

No caso do feijão preto, houve aumento de 6,13% no valor do produto no intervalo de 12 meses. O pacote de um quilo custava, em média, R$ 3,26 no início de 2013, enquanto no ano passado o valor era R$ 3,46.
De acordo com o setor, o preço nos supermercados não acompanhou a queda no campo em função dos estoques da safra passada. “O produto que está sendo faturado agora vai ter reflexo no ponto de venda. A tendência é o carioca baratear ainda em fevereiro”, afirma Everson Orlando Lugarezi, gerente de negócios da unidade de feijão da Castrolanda.

Investimento

A cooperativa de Castro, nos Campos Gerais, investiu R$ 13,6 milhões na construção de uma indústria com capacidade para processar 15 mil toneladas anuais do grão almejando, entre outras coisas, fortalecer a cadeia do feijão e oferecer mais segurança aos produtores associados. Porém, o executivo ressalta que a redução no preço no campo vai bem além da registrada no preço final. “Existe uma série de outras questões, como custo de operação, mão de obra e embalagem. Além disso, por conta das impurezas, apenas 80% dos grãos que chegam à indústria são aproveitados. O restante é descartado”, explica Lugarezi.

Fonte: Jornal de Londrina – 04/02/2014

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